Professora da Unicentro recebe prêmio Excelência em Fonoaudiologia
A professora Ana Paula Dassie Leite, do Departamento de Fonoaudiologia da Unicentro, campus Irati, recebeu no início deste mês o prêmio “Excelência em Fonoaudiologia”, em função da sua tese de doutorado. Ana Paula avaliou os distúrbios de voz e fonológicos de crianças com hipotireoidismo congênito. O prêmio foi concedido pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia durante o Congresso Nacional, que premia anualmente os melhores trabalhos na área.
Ana Paula explica que o hipotireoidismo congênito é uma deficiência na produção do hormônio tireoidiano e, na maior parte das vezes, é causado por um problema na própria glândula tireóidea que se localiza no pescoço. “O hipotireoidismo é a segunda doença endócrina-crônica mais comum. A minha pesquisa começou quando recebi uma criança que tinha hipotireoidismo e problema de voz. Aquilo me intrigou e resolvi pesquisar mais sobre a doença”, conta.
Em seu trabalho, a professora avaliou um grupo formado por 200 crianças que são atendidas no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, sendo que 100 possuem o hipotireoidismo e as demais não têm a doença. “Minha pesquisa envolveu avaliação de voz e fala em crianças com idade a partir dos três anos e com no máximo 12. Historicamente a literatura descreve que as crianças que têm hipotireoidismo congênito podem ter dificuldades tanto no desenvolvimento fonológico, quanto em questões relacionadas a voz, como rouquidão e falhas. Isso porque o hipotireoidismo pode gerar um edema na prega vocal e esse faz com que a voz fique mais grave, mais rouca e mais pesada”, afirma.
Segundo Ana Paula, com o avanço dos programas de triagem neonatal, a partir da década de 90, hoje as crianças têm sido diagnosticadas mais cedo e iniciado o tratamento. Como há poucos estudos que mostrem como tem acontecido o desenvolvimento de voz e fala na primeira infância de crianças precocemente diagnosticadas e com tratamento adequado, a professora decidiu investigar justamente se com essa mudança de panorama no próprio tratamento do hipotireoidismo, essas crianças passaram a ter características de voz e fala compatíveis com aquelas que não tem a doença.
Em relação às características de voz que podem ser rouquidão, soprosidade ou falha na voz, através dos testes feitos pela professora e também de exames na laringe, não foi possível observar nenhuma diferença entre as crianças com hipotireoidismo e entre as do grupo controle. “As características de voz foram muito semelhantes, o que fez com que chegássemos a conclusão de que provavelmente esse edema de prega vocal, que sempre foi referido na literatura, está associado provavelmente a uma má adesão ao tratamento ou a um diagnóstico tardio. Essas crianças hoje têm uma voz na primeira infância muito compatível com as demais”, completa Ana Paula.
Por outro lado, a pesquisa apontou variações sobre a forma como se desenvolve a fala das crianças nos primeiros anos de vida. As que não têm a doença possuem a aquisição do sistema fonológico (sons da fala) mais precocemente do que as crianças com hipotireoidismo congênito.
“Com seis anos, as 100 crianças do grupo controle já tinham tido a aquisição do sistema fonológico, e nas crianças com hipotireoidismo congênito, ainda com sete, oito anos, em algumas observamos certa dificuldade. Porém, a partir de oito anos isso tende a se normalizar. Assim, o desenvolvimento acontece de forma mais tardia, provavelmente porque essas crianças tiveram uma privação hormonal intraútero e a produção dos hormônios nesta fase é importante para sinapses e para o desenvolvimento neurológico. Mesmo com tratamento precoce e muito efetivo, as crianças com hipotireoidismo congênito podem ter um pequeno déficit que pode se manifestar na fala e também em questões escolares”, conclui a professora.