O que é a filosofia?
A Filosofia é uma das maiores áreas do conhecimento e bases da cultura ocidental. Surgida há mais de 2.400 anos nela se conglomera as mais diversas reflexões que o homem construiu sobre a realidade, sua existência, a sociedade, a vida, o conhecimento, a mente, os valores morais, a tecnologia, etc. Por isso ela não é uma ciência isolada, mas perpassa os mais diversos ramos do conhecimento. Sendo assim, ela é uma das mais elementares formas de conhecimento e de construção da nossa cultura e sociedade.
O que é a Universidade?
A universidade é a instituição social de produção de conhecimento, de ensino deste conhecimento e de disseminação social do conhecimento. Por isso que seus três eixos, ensino, pesquisa e extensão são essenciais para a vida em sociedade. Uma vez privado algum desses elementos a cultura e sociedade tendem a sofrer diversas consequências e sofrimentos.
Por que a filosofia deve estar nas universidades?
Sendo a filosofia uma reflexão autônoma sobre a vida em seus mais diversos âmbitos, e dado que nenhuma produção científica hoje é realizada de maneira isolada, a filosofia se torna, então, imprescindível a qualquer sociedade que preze por sua formação e aprimoramento. Se as universidades são as instituições que produzem o conhecimento, privá-las do pensamento filosófico seria limitá-las da construção plural e conceitual do conhecimento.
Mas o que a filosofia produz para a sociedade?
A filosofia produz não apenas discursos bem elaborados pelo pensamento para explicar e tonar preciso aquilo que é de difícil resposta imediata, mas a própria imagem do que seja o pensar e por ele como vemos e compreendemos a realidade. A filosofia mostra que uma vida sem conhecimento se torna não apenas cega, mas padece frente à sofrimentos que não consegue compreender.
Em termos objetivos ela produz CONCEITOS. Um conceito é uma ferramenta que nos permite compreender e responder a um determinado problema ou conjunto de problemas. Problemas estes que não apenas aparecem em circunstâncias adversas, mas que são construídos pelo pensamento para que melhor compreendamos a realidade e o mundo. Por que precisamos disso? Porque nosso senso comum não dá conta de resolvê-los e se perde em seus sofrimentos. A filosofia nasce justamente dessa insuficiência do senso comum para resolver problemas maiores. O conceito permite ver o que o senso comum não consegue devido a sua condição precária. Assim, criar conceitos e problematizar é a maneira propriamente filosófica de refletir e de estender os domínios do homem sobre o mundo e a vida.
Em termos subjetivos ela é uma das maiores possibilidades de AUTONOMIA de pensamento que podemos desenvolver. Ao trabalhar com a problematização ela mostra que apenas um pensamento autônomo é capaz de problematizar, de ser realmente crítico, e de escapar às amarras dos domínios e manipulações que a vida cotidiana nos prende devido, justamente, à precariedade de nosso senso comum.
Todo problema é complexo e exige tempo, paciência e muito trabalho. Se os problemas fossem simples o próprio senso comum os resolveria. É porque os problemas ultrapassam nossa condição mais imediata que eles exigem que nos disponibilizemos a pensá-los e a trabalhar neles.
Mas haveria alguma produção mais imediata da filosofia para a sociedade?
Melhor seria dizer que é a sociedade inteira que é a produção mais imediata do quanto fomos capazes de pensar sobre nós mesmos e do quanto ainda falta para pensarmos, de modo que a filosofia nos permite padecermos menos de tantos problemas que nos afligem constantemente e que nos são inevitáveis.
Ademais, como bem posiciona o filósofo Gilles Deleuze, “A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas. Existe alguma disciplina, além da filosofia, que se proponha a criticar todas as mistificações, quaisquer que sejam sua fonte e seu objetivo? […] a tolice e a bizarria, por maiores que sejam, seriam ainda maiores se não subsistisse um pouco de filosofia para impedi-las, em cada época, de ir tão longe quanto desejariam, para proibi-las, mesmo que seja por ouvir dizer, de serem tão tolas e tão baixas quanto cada uma delas desejaria”.
Sendo assim, quem é o filósofo?
Criou-se uma imagem popular do filósofo ou como um sábio, alguém raro pela condição de tamanha sabedoria e já idoso pelo longo percurso para obtê-la, como se ela pudesse ser o destino de poucos, ou alguém isolado da sociedade, estando a pensar coisas demasiado teóricas e longe da vida real. Na verdade, é mais simples: Filósofo é aquele que não se contenta com as respostas do senso comum e se propõe a problematizar, de maneira autônoma e não dogmática, sobre um problema ou um conjunto de problemas, de modo a dar uma resposta a partir da criação de conceitos, de um discurso bem elaborado e argumentado, permanecendo aberto à autocrítica e discussão. Ele é aquele que não aceita problemas dados, mas pensa que os próprios problemas estão para serem construídos, uma vez que em sua maioria tais problemas vêm prontos já do senso comum, o que impedem uma melhor resposta a eles. Nesse sentido, qualquer um que se proponha a realizar tal caminho pode-se dizer filósofo.
E onde o filósofo está ou deveria estar? Quando devemos filosofar?
Como exposto, embora seja produzida nas universidades, como hoje as demais ciências, ela é uma das bases da sociedade, de modo que não há filosofia que, de alguma maneira, não venha a ajudar a sustentar e a produzir a sociedade. Ela vem, sobretudo, a partir da mediação da escola no ensino básico com o ensino de filosofia. Mas é presente também aonde um problema se imponha e exija uma resposta mais elaborada, como no trabalho, nas famílias, comunidades, demais instituições, nos meios midiáticos e de opinião pública, etc. Por isso que toda e qualquer pessoa pode e deve praticar a filosofia como modo de exercer a sua própria cidadania e subjetividade. E se em nosso mundo somos constantemente afligidos pelos mais diversos problemas nos mais diversos espaços, a prática da filosofia se torna mais que necessária, é uma prática urgente. São nos tempos que há pouco lugar para a filosofia que mais é preciso fazer filosofia.