Durante o período colonial, o sistema de trocas entre os povos indígenas e os colonizadores portugueses refletia práticas econômicas típicas do início da colonização portuguesa na América. Antes da chegada dos europeus, as populações indígenas mantinham uma economia de subsistência, baseada no cultivo de diversos alimentos, como feijão, milho e abóbora, vivendo de forma autossuficiente em suas aldeias. O contato com os portugueses trouxe novas dinâmicas econômicas, especialmente por meio do escambo, uma forma primitiva de troca direta. Esta prática comercial era marcada pela troca de bens nativos, como o pau-brasil e farinha de mandioca, por itens de baixo valor para os portugueses, como tecidos, facas, canivetes e espelhos. Com o tempo, o escambo revelou-se economicamente limitado do ponto de vista da metrópole portuguesa, que buscava maximizar a exploração econômica da colônia. A necessidade de viabilizar a integração da colônia à economia europeia levou à exploração mais intensa dos recursos coloniais com o uso da mão-de-obra escrava indígena, posteriormente substituída pela escravidão africana. Esse novo modelo impactou não somente a economia, mas também a sociedade e a organização territorial, impulsionando a criação das capitanias hereditárias e alterações significativas no equilíbrio entre consumo de subsistência indígena e produção de excedentes para exportação (Ramos, 2004).

O que foi o escambo no Brasil? A prática do escambo é detalhada no episódio 3 da série História Econômica do Brasil.

A Economia Colonial e a Circulação de Moedas

A economia do Brasil colonial tinha grande dependência em moedas estrangeiras, principalmente das moedas portuguesas, como o cruzado (ouro, 400 réis), o tostão (prata, 100 réis), e o vintém (prata, 20 réis), além do ceitil, a única moeda de cobre, que equivalia a 6 ceitis para cada Real. O governo português mantinha o monopólio da cunhagem e estabelecia as diretrizes gerais para a circulação monetária em suas colônias, embora o sistema fosse totalmente unificado apenas no território do Reino (Lima, 2005). A circulação do Real português era crucial para as transações comerciais entre Brasil e Portugal, garantindo a integração do Brasil Colônia à economia mercantilista europeia.

No entanto, a falta de moedas metálicas tornava o escambo uma prática ainda comum, especialmente no comércio de produtos como açúcar, algodão e tabaco. Além disso, essa escassez era acompanhada do que Kohn (1999) chamou de “caos monetário”: havia circulação de moedas provenientes de diferentes lugares, incluindo algumas falsificadas; também não era raro encontrar moedas com o mesmo valor nominal, mas valores intrínsecos diferentes. As técnicas primitivas utilizadas na cunhagem dificultavam a identificação das moedas, tornando-as pouco confiáveis para transações em larga escala.

Conforme o período colonial avançava, tanto a introdução de moedas estrangeiras em território colonial quanto a criação de moedas locais tomaram destaque como passos essenciais na evolução econômica. Moedas de várias origens passaram a circular no Brasil, sendo tanto importadas quanto produzidas nacionalmente, em locais como a Casa da Moeda do Brasil, criada em Salvador em 1694. Esta instituição desempenhou um papel central ao produzir os Réis, garantindo uma cunhagem mecânica mais padronizada e eficiente, estabelecendo assim um sistema monetário com mais organização e estabilidade.

A Criação da Casa da Moeda (1694) e Seus Impactos na Economia Colonial

Antes da criação da Casa da Moeda em 1694, a economia colonial estava vulnerável a fatores externos devido à sua dependência de moedas importadas. A instituição da Casa da Moeda em Salvador representou uma iniciativa da Coroa portuguesa para reforçar o controle econômico sobre a colônia. A introdução de uma moeda oficial não apenas substituiu a predileção pelas moedas estrangeiras, mas também fortaleceu o poder da Coroa no que diz respeito à arrecadação de tributos e à organização das finanças coloniais.

A cunhagem de moedas locais não só contribuiu para reduzir a dependência de recursos externos como também auxiliou na estabilização econômica por meio da criação de novos canais para transações comerciais. Com o tempo, isso facilitou o financiamento de empreendimentos econômicos vitais, como a produção de açúcar e a extração de ouro, permitindo à colônia uma integração mais eficiente na economia mercantil europeia.

Os Efeitos do Ciclo do Ouro (Século XVIII) na Circulação Monetária e no Desenvolvimento do Sistema Financeiro Colonial.

O Ciclo do Ouro, iniciado com a descoberta de extensos depósitos de ouro em Minas Gerais no final do século XVII, mudou significativamente a economia colonial brasileira. Este período foi caracterizado por uma abundância sem precedentes de ouro, que rapidamente se tornou o principal recurso econômico da colônia, com diversas implicações para sua circulação monetária e sistema financeiro.

A abundância de ouro resultou em uma monetização mais rica da economia, com a moeda metálica dourada aumentando em circulação e contribuindo para um sistema econômico mais organizado. A Casa da Moeda precisou aumentar a produção de moedas de ouro e prata, reflexo da nova realidade econômica. Essa transformação econômica não trouxe apenas benefícios: a inflação se tornou uma preocupação, pois a abundância de moedas metálicas contribuiu para um aumento de preços e desvalorização das moedas, mostrando a vulnerabilidade da economia colonial às flutuações no mercado internacional.

A introdução de novos instrumentos financeiros e o surgimento de bancos ajudaram a integrar ainda mais a economia colonial aos mercados internacionais, mas o foco na mineração significou que outras áreas da economia, como a agricultura e a indústria, permaneceram secundárias, sem grandes investimentos. Como a riqueza não foi acompanhada por um desenvolvimento econômico diversificado, a economia do Brasil ficou vulnerável a flutuações no mercado do ouro.

A Oficialização do Réis como a primeira moeda brasileira e sua importância no contexto econômico da época

O Réis, estabelecido oficialmente durante o período colonial, foi a primeira moeda brasileira e teve papel fundamental na estruturação da economia colonial. O Réis era mais do que uma simples moeda; ele simbolizava a ligação do Brasil com o Império português e, mais tarde, a identidade própria do Império brasileiro (David; Soares, 2023). Conforme mencionado anteriormente, antes de sua introdução, as transações comerciais dependiam de moedas estrangeiras e do escambo, o que tornava o comércio mais complexo e menos eficiente.

Com a oficialização do Réis, o Brasil Colônia deu um passo importante em direção à estabilização econômica, permitindo que as transações fossem efetuadas de maneira mais organizada e reduzindo a instabilidade associada à troca de moedas externas. Além de facilitar o comércio interno, o Réis também impulsionou as transações externas, pois a moeda local em circulação tornou as trocas comerciais mais uniformes e previsíveis, beneficiando tanto a economia doméstica quanto a exterior. A introdução do Réis representou também um fortalecimento do controle estatal sobre a economia, crucial para o crescimento comercial e a consolidação dos negócios na colônia. O governo pôde regulamentar melhor as práticas financeiras, arrecadar tributos com mais eficiência e garantir que as atividades comerciais estivessem alinhadas com os interesses do Império (Lima, 2005). Mesmo após a independência em 1822, o Brasil optou por manter o Réis como sua moeda oficial, evidenciando seu papel não apenas como meio de troca, mas também como símbolo de valor (Pierry, 2018).

Galeria de moedas

Ouro, 400 réis, 1706 a 1776

Tostão, prata, 100 réis de 1909

Vintém, prata, 20 réis, de 1683 a 1706

Fonte: Banco Central do Brasil disponível em https://www.bcb.gov.br/cedulasemoedas/moedasemitid