Efeitos do manejo de Hovenia dulcis Thunb. sobre a composição, estrutura, diversidade e dinâmica da regeneração natural em floresta ombrófila mista montana

Tiago Grespan

 

Defesa Pública: 05 de abril de 2022

 

Banca examinadora:

Prof. Dr. Renato Marques – UFPR – Primeiro Examinador
Profª. Dra. Jaçanan Eloisa de Freitas Milani – UFMT – Segunda Examinadora
Prof. Dr. Pedro Higuchi – UDESC – Terceiro Examinador
Prof. Dr. Thiago Floriani Stepka – UDESC – Quarto Examinador
Prof. Dr. Afonso Figueiredo Filho – UNICENTRO – Orientador e Presidente da Banca Examinadora

 

Resumo:

O objetivo geral desta tese foi avaliar em Floresta Ombrófila Mista o efeito de cortes seletivos da espécie exótica invasora H. dulcis sobre a regeneração natural, a partir da comparação entre áreas com e sem manejo de indivíduos adultos de H. dulcis, buscando compreender os processos ecológicos subjacentes, a fim de subsidiar estratégias para o seu manejo. Foram selecionados seis fragmentos de Floresta Ombrófila Mista Montana em estágio médio a avançado de sucessão, com ocorrência da espécie, localizados em propriedades rurais particulares no município de Fernandes Pinheiro, Paraná. Dentre os seis fragmentos selecionados, três foram manejados e os outros três foram utilizados como testemunhas. A proposta de manejo de H. dulcis foi concebida com dois objetivos principais: o controle da espécie como forma de manutenção do equilíbrio dos fragmentos florestais nativos; e a agregação e diversificação da fonte renda do produtor rural, por meio da comercialização das toras. A intensidade de corte da espécie exótica foi definida, principalmente, a partir da dinâmica entre a entrada e saída dos indivíduos. Para tal, utilizou-se a taxa média anual de ingresso de 6,19%, o ciclo de corte definido como três anos e o número de árvores da espécie existente em cada fragmento. O número de árvores colhidas variou entre os fragmentos em função do número de árvores pré-existentes. O componente arbóreo de cada fragmento foi caracterizado por parcelas de 2.000 m², quando possível, ou com parcelas de 400 m² em quantidades proporcionais ao tamanho da área. Em cada fragmento foram selecionadas dez matrizes de H. dulcis, com base em características dendrométricas e espaciais. Após a medição dos quatro raios da projeção da copa de cada matriz, considerando as direções cardeais, três parcelas circulares com raio de 0,5 metro foram instaladas ao longo de cada raio da projeção da copa de forma sistemática, equidistantes entre si, totalizando 12 parcelas sob cada indivíduo e 120 parcelas em cada fragmento. Em cada unidade amostral foram amostrados os regenerantes, considerados espécies arbóreas e arbustivas, com altura ≥ 0,3 metro e diâmetro à altura do peito (DAP) ≤ 10 cm. Na amostragem foram consideradas três classes de tamanho: classe I (≥ 0,3 m até < 1,0 m), classe II (≥ 1,0 m até < 3,0 m) e classe III (≥ 3,0 m de altura até < 10,0 cm de DAP). Para avaliação dos regenerantes da espécie H. dulcis abaixo de 0,3 m de altura foram selecionadas duas parcelas por matriz. Foram obtidas variáveis ambientais de cada local, como abertura do dossel, serapilheira acumulada, classes de solo, assim como variáveis referentes à pressão de propágulo exercida pela espécie exótica. Para a descrição da estrutura da vegetação foram utilizados os parâmetros fitossociológicos representados pela Densidade, Frequência e Classes de Tamanho absolutos e relativos, assim como calculadas as taxas de recrutamento, mortalidade, mudança líquida e rotatividade líquida. Análises de classificação (análise de cluster) e de ordenação (análise de componentes principais; escalonamento multidimensional nãométrico; e análise de redundância) foram empregadas para a compreensão dos efeitos do manejo, assim como a utilização da análise de espécies indicadoras. Como resultado verificou-se que o componente arbóreo apresentou predominância de espécies pertences ao grupo ecológico climácicas exigentes de luz e pioneiras, associado à baixa presença de espécies pertencentes ao grupo climácicas tolerantes à sombra, situando-se em fase de estruturação da comunidade, demonstrando susceptibilidade à invasão de H. dulcis. Para a regeneração natural da espécie H. dulcis abaixo de 0,3 m de altura não foi verificada relação direta entre abundância de regenerantes e abertura do dossel. Por outro lado, níveis de abertura considerados intermediários para este estudo, variando de 10 a 20%, demonstraram condições mais favoráveis para a germinação das sementes e emergência das plântulas. Verificou-se relação inversa entre serapilheira acumulada e o número de indivíduos regenerantes da espécie H. dulcis, assim como relação positiva entre maiores alturas médias com maiores aberturas do dossel. As taxas de mortalidade anuais entre os períodos de 2019 a 2021 foram maiores em áreas com menores aberturas de dossel e com maiores valores de serapilheira acumulada. Analisando a regeneração natural acima de 0,3 m de altura no período de dois anos, verificou-se que o manejo de indivíduos arbóreos da espécie H. dulcis gerou alteração na composição florística nos locais com intervenção, caracterizada pelo aumento de espécies, e a abundância delas, pertencentes ao grupo ecológico pioneiras, típico de fases iniciais de sucessão. Verificou-se uma redução da diversidade dos índices de Shannon e Simpson nos ambientes manejados. Maiores taxas de mortalidade foram observadas em áreas manejadas, sendo estes efeitos associados às trilhas de extração; injúrias causadas pela derrubada dos indivíduos arbóreos sobre os indivíduos remanescentes; assim como a competição entre os indivíduos que ocupam as áreas recém perturbadas. Paralelamente, maiores taxas de recrutamento foram observadas para as áreas manejadas, influenciadas pelas respostas ecofisiológicas das espécies presentes nas áreas às aberturas de clareiras, na forma de banco de plântulas ou de sementes dormentes no solo e, ou, de indivíduos remanescentes, assim como das espécies migrantes pós-distúrbios via processo de dispersão da vegetação circundante. A análise de espécies indicadoras, juntamente com a análise de escalonamento multidimensional não-métrico, permitiu identificar que, além da espécie H. dulcis, as espécies Solanum mauritianum, Vassobia breviflora, Solanum paranense, Cestrum intermedium e Araucaria angustifolia foram favorecidas pelas intervenções. Por meio da análise de redundância foi possível verificar o efeito do espaço na estruturação da regeneração natural, associada nesta pesquisa aos processos neutros de população ou dinâmica de comunidades, caracterizados pelos efeitos da estrutura temporal produzida pelos agrupamentos próprios das espécies, gerando autocorrelação nas variáveis resposta (espécies); assim como variáveis ambientais, neste caso, associadas a solos hidromórficos, favorecendo espécies como Annona emarginata, Campomanesia xanthocarpa e Sebastiania brasiliensis. Ainda, a análise permitiu identificar que o manejo, associado ao tamanho dos indivíduos removidos, juntamente com a pressão de propágulos da espécie H. dulcis, favoreceu o processo de invasão.

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