Diagnóstico, dinâmica e manejo de Hovenia dulcis Thunb. em fragmentos antropizados de Floresta Ombrófila Mista.
Carlos Henrique Boscardin Nauiack
Defesa Pública: 04 de maio de 2020
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Sylvio Péllico Netto – UFPR – Primeiro Examinador
Prof. Dr. Francelo Mognon – UFPR – Segundo Examinador
Prof. Dr. Sebastião do Amaral Machado – UFPR/UNICENTRO – Terceiro Examinador
Prof. Dr. Gabriel de Magalhães Miranda – UNICENTRO – Quarto Examinador
Prof. Dr. Afonso Figueiredo Filho – UNICENTRO – Orientador e Presidente da Banca Examinadora
Resumo:
Hovenia dulcis Thunb., comumente conhecida no Brasil como uva-do-japão, é considerada espécie arbórea exótica e invasora (EEI) em diversas unidades fitogeográficas no Sul do Brasil, como a Floresta Ombrófila Mista (FOM), a Floresta Estacional Semidecidual e Estepes Gramíneo-Lenhosa. Por ameaçar o equilíbrio natural dos ecossistemas invadidos, mecanismos de controle e monitoramento dessa espécie devem ser buscados, a fim de se estabelecer estratégias conjuntas de mitigação. A presente pesquisa teve como objetivo realizar o diagnóstico de fragmentos antropizados de FOM contaminados por H. dulcis, avaliar a dinâmica e desenvolver um modelo de manejo para a espécie exótica invasora, buscando controlar sua expansão, com geração de rendas aos proprietários rurais. Especificamente, ainda se objetivou desenvolver uma metodologia para a estratificação dos fragmentos florestais pelo grau de invasão de H. dulcis, determinar a Classe de Diâmetro de Máximo Valor Presente (CMVP) para H. dulcis e avaliar os danos da colheita nas árvores remanescentes. O estudo foi realizado em 12 fragmentos antropizados de FOM no município de Fernandes Pinheiros, região Centro-sul do Paraná. Considerouse cada fragmento como uma propriedade rural. Várias bases de dados foram utilizadas nesta pesquisa e algumas foram empregadas em múltiplos objetivos. O diagnóstico e a dinâmica dos fragmentos florestais com presença da EEI foram realizados com dados provenientes de: inventário florestal a 100% de H. dulcis (2012 e 2018); inventário por amostragem com parcelas permanentes (2011 a 2017); dados de crescimento gerados por análise de tronco (ANATRO); e mapeamento dos fragmentos com imagem de satélite e aerolevantamento com veículo aéreo não tribulado (VANT). No inventário por amostragem, foram alocadas 21 parcelas permanentes, perfazendo um total de 2,9 hectares amostrados. Ao comparar os resultados entre os períodos de medição, observou-se a manutenção do número de gêneros e famílias botânicas, com redução mínima no número de espécies de 82 em 2011 para 80 em 2017. Os dados relativos ao número de árvores.ha-1 apresentaram a maior alteração ao longo dos seis anos de intervalo entre as medições, reduzindo 90 árvores.ha-1 em 2017. Além da mortalidade, essa redução está relacionada também ao corte de 129 indivíduos de 36 espécies diferentes dentro das parcelas entre 2011 e 2017. Todas as 10 espécies com maiores índices de valor de importância (IVI) em 2011 apresentaram redução em sua densidade na medição de 2017. A distribuição diamétrica é do tipo decrescente, tanto em 2011 como em 2017. Ao contrário da distribuição diamétrica, o estoque volumétrico por classe de diâmetro assume uma distribuição unimodal com elevada assimetria positiva. Com relação ao inventário a 100% de H.dulcis nos 12 fragmentos, foram registradas 514 árvores em 2012, em que, após seis anos (2018), nos mesmos fragmentos florestais foram mensuradas 1.008 árvores com diâmetro a 1,3 m igual ou superior a 10 cm. Houve elevado aumento em todos os parâmetros da população de H.dulcis (número de árvores, área basal e volume por hectare) em praticamente todas as classes de diâmetro, principalmente nas menores classes. No total, 138 árvores de H. dulcis foram colhidas pelos proprietários dos fragmentos florestais entre 2012 e 2018, valor que correspondeu a uma taxa de colheita de 2,28% ao ano. O ingresso e a mortalidade foram avaliados a partir dos dados de parcelas permanentes nos seguintes períodos: 2011-2014 e 2014-2017. A taxa média anual de ingresso para H. dulcis foi de 6,19%, enquanto a taxa média anual da mortalidade entre os períodos foi próxima de zero (0,51%). O incremento diamétrico foi de 0,74 cm.ano-1 , o qual foi determinado com base nos dados do inventário a 100% para as árvores remanescentes da primeira medição (2012) e remedidas em 2018. O incremento médio da classe (IMC) e o tempo de passagem foi determinado para diferentes amplitudes diamétricas (3, 5, 6 e 10 cm), com 905 pares de dados provenientes de 33 árvores amostradas pela ANATRO. Em relação à estratificação pelo grau de invasão de H. dulcis, aplicou-se a mesma metodologia para duas bases de dados distintas: levantamento terrestre e aerolevantamento com VANT. A estratificação foi realizada por meio da estatística multivariada, submetendo-se a matriz de dados à Análise de Agrupamento pelo método aglomerativo hierárquico, sendo o dendrograma obtido pela distância euclidiana como medida de similaridade, utilizando o método de ligação completa do vizinho mais distante. Com base no dendrograma foram definidos três estratos (mesma linha de corte) para ambas as base de dados, sendo que todos os fragmentos receberam a mesma classificação quanto ao grau de vii invasão (médio, alto e muito alto). A classe de diâmetro de máximo valor presente para H. dulcis foi definida a partir da avaliação da média do valor presente de cada classe. A CMVP foi a faixa de diâmetro em que as árvores da espécie se encontram no seu máximo valor presente, tendo sido definida com base nas árvores amostradas pela ANATRO. A 8ª classe diamétrica, que representa os diâmetros de 31 a 34 cm, apresentou o maior valor presente médio com R$ 35,67 por árvore e volume comercial médio de 0,820 m3 por árvore, sendo considerada, portanto, a classe de diâmetro ótima de corte para a espécie. Dos 12 fragmentos com a presença de H.dulcis, foram selecionados apenas três fragmentos/propriedades para o manejo da espécie, sendo duas delas classificadas como grau de invasão alto e a outra como muito alto. A proposta de manejo de H. dulcis foi concebida com dois objetivos principais: o controle da espécie como forma de manutenção do equilíbrio dos fragmentos florestais nativos e a geração de rendas para os proprietários rurais. A intensidade de corte, ou seja, a determinação do número de árvores que seriam colhidas, foi o principal parâmetro para o controle da EEI, pois é a partir do equilíbrio entre entradas e saídas das árvores que ocorrerá a estabilização da expansão. Para tal, utilizou-se a taxa média anual do ingresso de 6,19%, o ciclo de corte definido como três anos e o número de árvores da espécie existente em cada fragmento. O número de árvores colhidas variou entre os fragmentos, pois é dependente do número de árvores pré-existentes, sendo a única variável que se diferenciou entre os fragmentos. Conforme esperado, os resultados do manejo variaram entre os três fragmentos. Para o número de árvores colhidas, a média foi de 28,66, com variação de 22 a 38 árvores. Para o volume comercial colhido, a média ponderada foi de 12,77 m3 , com variação de 11,32 a 14,36 m 3 entre os fragmentos. Com base na técnica da razão de movimento, projeções da distribuição diamétrica da população da EEI foram realizadas para 2021 e 2024 para o fragmento 4. Observou-se como resultado da projeção que, a partir do 2º e 3º ciclos de corte, os parâmetros da população da EEI estabilizam-se e os resultados do volume e número de árvores permanecem equilibrados, atingindo a equilíbrio idealizado para o manejo sustentável. Os danos causados pela operação de colheita da EEI foram avaliados quanto ao grau e ao tipo de dano para todas as árvores com DAP ≥ 10 cm. Para os três fragmentos a média ponderada do dano de qualquer tipo foi equivalente a 2,3 árvores.ha-1 , menos de 1% do número total de árvores. Entretanto, a média do dano que ocasionou a morte das árvores foi ainda menor. O dano em área basal representou na média menos de 1% (0,094 m2 .ha-1 ) da área basal total dos fragmentos. O tipo de dano mais comum em 38% dos casos foi a quebra da copa, seguida da quebra do fuste com 22% e árvores cortadas com 20%, que juntos somaram 80% dos tipos de danos. A partir dos resultados gerados na pesquisa conclui-se que: A análise da alteração na composição florística e na estrutural horizontal entre os períodos de medição mostraram fragmentos fragilizados, principalmente devido às ações antrópica, fato que favorece a invasão e a expansão por H. dulcis, evidenciando a necessidade de ações que busquem alterar o quadro atual de antropização; A taxa de mortalidade da espécie próxima a zero mostra que o controle natural da espécie na FOM é praticamente nulo; H. dulcis mostrou grande eficiência na competição por recursos e alta capacidade de regeneração, com valores altos para o incremento periódico anual e para a taxa anual de ingresso, quando comparados às espécies nativas da FOM; A invasão da FOM por H. dulcis está longe de retroceder ou estabilizar; De modo geral, H.dulcis caracteriza-se pela tendência de decréscimo no incremento em diâmetro ao longo de seu desenvolvimento; A estratificação dos fragmentos florestais quanto ao grau de invasão por H. dulcis pela técnica da análise de agrupamento, tanto para dados provenientes de levantamento terrestre como para dados provenientes de aerolevantamento com VANT, mostrou-se um método eficiente na determinação de estratos homogêneos; A primeira análise do manejo executado indica que os principais objetivos propostos inicialmente nesta pesquisa, ou seja, a geração de rendas e o controle da espécie exótica (redução dos parâmetros) foram atingidos e, certamente, podem servir como modelo de manejo para H. dulcis. Para controlar H. dulcis e ao mesmo tempo mantê-la como fonte de renda, deve ser estabelecido o equilíbrio entre o número de árvores colhidas e de ingressantes na floresta. A colheita de H. dulcis gerou danos irrelevantes nas árvores remanescente com DAP ≥ 10 cm, tanto para o número de árvores.ha-1 quanto para a área basal.