NATURALISMO FILOSÓFICO E A METAFÍSICA DA MODERNIDADE – Dr. Luís Oliveira  – Resenha

NATURALISMO FILOSÓFICO E A METAFÍSICA DA MODERNIDADE – Dr. Luís Oliveira – Resenha

Por José Felipe Cravelin

Jfelipe-cr@outlook.com

 

Em sua palestra, o professor Luís Oliveira iniciou rememorando as noções básicas que permeiam a análise lógica das proposições analíticas, para formar o background de sua exposição dos diferentes argumentos que são encontrados na meta-ética, com especial atenção às posições naturalistas e não naturalistas. Com efeito, ele inicia argumentando sobre as formas básicas de expressões que a linguagem nos permite usar, sendo elas: as imperativas (pedir, mandar, ordenar); exclamativas (perguntar) e declarativas (dizer algo sobre o mundo). Exposta estas três formas básicas de expressões linguísticas, a conclusão que se chega é que apenas as expressões declarativas podem ser tomadas como verdadeiras ou falsas porque se referem a estados de coisas no mundo.

Estendendo sua argumentação sobre a lógica, Luís Oliveira passou a tratar da importância dos operadores lógicos para definir os valores de verdade das proposições. A estrutura proposicional somada com as ferramentas da lógica possibilita a transferência da linguagem comum para uma nova forma de linguagem estritamente lógica. Este seria o contexto em que se opera dentro da filosofia analítica, ou seja, colocar o argumento em uma forma padrão.

Feita sua exposição sobre a lógica, Luís Oliveira adentrou ao domínio da ética expondo duas perspectivas: ética aplicada e ética normativa. A primeira considera aquilo que é certo ou errado na ação humana, um exemplo de ética aplicada é o das ideias encontradas nos trabalhos de Peter Singer. Já a segunda, é a perspectiva mais comum na filosofia e trata não do que é certo ou errado, mas do que faz algo ser certo ou errado. Kant e J. S. Mill são representantes desta ética denominada normativa.

A despeito destas duas perspectivas trazerem grandes contribuições para as discussões éticas, elas não estão interessadas nos fundamentos da ética, ou seja, sobre o que possibilita a discussão da ética e as condições em que ela pode ser aplicada. Em vista disso, para avaliar estas questões é necessário adentrar em um outro domínio, o da meta-ética. A meta-ética está interessada na compreensão do sentido, fundamento e condições da ética. É neste domínio que o palestrante passou a desenvolver sua argumentação.

Fator importante para a argumentação do professor Luís Oliveira na meta-ética é que as sentenças da ética parecem não estarem de acordo com a estrutura proposicional que ele havia inicialmente apresentado. O ponto em questão é que as afirmações da ética parecem não possuir valor de verdade. Vejamos o exemplo:

(a)“assassinar uma pessoa é errado”

Este argumento parece não se encaixar na estrutura proposicional porque não diz nada sobre o mundo. É diferente de uma afirmação tal como:

(b)“Está chovendo hoje”

Pode-se notar que (b) é uma expressão que se refere a estados de coisas e por isso é possível analisar sua verdade ou falsidade, pois trata de uma propriedade existente no mundo. Entretanto, (a) parece não se adequar aos padrões necessário para a avaliação da verdade ou falsidade. Resta, pois, avaliar se (a) tem alguma condição de expressar proposições. A partir deste problema, o professor Luís Oliveira trouxe três questionamentos considerados muitos comuns da meta-ética:

Q1: As afirmações éticas expressam proposições?

Q2: As proposições éticas são as vezes verdadeiras?

Q3: Os fatos ou as propriedades éticas são naturais ou não são naturais?

Uma possível resposta para Q1 seria “não”. Afirmações éticas não expressariam proposições. Defensores do emotivismo ou expressivismo seriam exemplos destes que não consideram afirmações éticas como proposições, mas defendem que elas seriam apenas uma atitude de aprovação ou desaprovação. Uma outra resposta para Q1 poderia ser “sim”. Há defensores de que afirmações éticas como (a) dizem algo sobre o mundo tanto quanto (b), mas, sendo assim, retornaríamos à questão: que tipo de afirmação sobre o mundo (a) poderia estar fazendo? Uma possível solução para isso, seria recorrer a Q2 e avalia-lo.

Q2 questiona se afirmações éticas são as vezes verdadeiras. Uma possível resposta à Q2 é “não”. Afirmações éticas descrevem o mundo de certa maneira e, não obstante, (a) tem sentido e é logicamente válido, todavia, não diz algo de verdadeiro ou falso sobre o mundo. Esta é a posição do niilista. Para resumir a diferença entre o emotivista e o niilista, enquanto o primeiro não considera que (a) seja uma afirmação sobre o mundo (não diz nada sobre nenhuma propriedade concretamente existente) o segundo considera que (a) diz, de fato, algo sobre as propriedades do mundo, mas estas propriedades são inexistentes e consequentemente falsas. A segunda possibilidade de resposta é, novamente, “sim”. Afirmações éticas são as vezes verdadeiras, esta afirmação conduz à Q3, isto é, se eu considero as afirmações éticas como tendo propriedades que são as vezes verdadeiras no mundo, posso questionar se estas propriedades são ou não são naturais.

Uma resposta para Q3 é “sim”. É a resposta do naturalismo realista que como assinala o professor Luís Oliveira é a mais incomum na meta-ética. Os defensores desta posição consideram que certas afirmações éticas tem a propriedade de ser errado ou certo, deste modo, quem aceita Q3 automaticamente aceita Q2, pois se certas afirmações éticas tem a propriedade de ser certo ou errado, estas afirmações são verdadeiras ou falsas, decorre disso, que “assassinar uma pessoa é errado” é um exemplo de afirmação que deve ser ou verdadeira ou falsa. A outra resposta é “não”. Afirmações éticas não possuem propriedades naturais, este seria o caso tanto do não naturalismo realista como das três vertentes que foram acima assinaladas: emotivismo, expressivismo e niilismo.

Até aqui o professor Luís Oliveira havia estabelecido uma classificação das vertentes mais comuns que se podem encontrar na meta-ética, tal como acima explicitado. Todas estas vertentes se dividem em duas posições gerais, qual seja, o naturalismo e o não naturalismo. A partir deste momento, ele discorreu sobre os diversos posicionamentos em função destas vertentes.

Na segunda parte da palestra, o professor Luís Oliveira passou a apresentar algumas posições do naturalismo. A primeira posição apresentada é a do naturalismo analítico. Este, considera que uma afirmação moral expressa uma proposição não moral. A segunda posição naturalista é o naturalismo redutivo que considera que uma afirmação moral expressa uma proposição moral, mas as proposições morais se reduzem em propriedades não morais. Por fim, a última posição apresentada é a do naturalismo não redutivo que considera que uma afirmação moral expressa uma proposição moral, mas as proposições morais não se reduzem a propriedades não morais.

Ao argumentar mais sobre essas três posições o professor Luís Oliveira conclui que o naturalismo analítico é o menos aceito entre os filósofos e, seguidamente, ele conclui que tanto o naturalismo redutivo como o não redutivo encontram pontos problemáticos. Outra alternativa apresentada por ele é o argumento da pergunta aberta que seria uma volta ao naturalismo analítico. Como se segue:

(c)“matar uma criança maximiza a felicidade, mas é errado”

Esta afirmação é compreendida da seguinte forma, se duas expressões são equivalentes, elas podem ser substituídas sem perda de sentido. Com efeito, houve uma grande atenção a este argumento devido ao fato dele suscitar uma questão: “matar uma criança inocente é errado” se reduz a moral ou é moral em si? As respostas, conforme o professor Luís Oliveira, podem variar dependendo da posição se toma.

Dado o exposto, o professor Luís Oliveira passou a argumentar a respeito do não naturalismo realista tomando como representantes desta posição o emotivismo e o niilismo. O emotivismo é muito comum no pensamento dos empiristas radicais que defendem a existência de proposições que se dividem entre aquelas que expressam verdades analíticas (um homem solteiro não é casado) e proposições que expressam verdades sintéticas (alguns homens são dentistas). Para os empiristas radicais as verdades analíticas são relações de ideias e as sintéticas são questões de fato, ambas são relações que se referem ao mundo. Os emotivistas consideram que afirmações éticas não podem ser consideradas nem analíticas nem sintéticas, por outro lado, elas seriam expressões de atitudes. Existem dois tipos de expressões de atitudes, as diretas “estou cansado”, e as indiretas “um bocejo” ou “acho que o José está cansado”. Em resumo, propriedades naturais não podem ser expressadas por proposições analíticas.

A segunda posição é a do niilista, este considera que afirmações éticas não são corretas e nem incorretas, mas somos nós que atribuímos propriedades a estas afirmações. Com efeito, tanto afirmações positivas “matar uma pessoa é errado” como negativas “matar uma pessoa não é errado” são falsas. O professor Luís Oliveira, advertiu que os defensores do niilismo não consideram que não fazemos afirmações morais, de fato fazemos, contudo, as propriedades que atribuímos a estas afirmações não existem.

Por fim, é apresentado três tipos de argumentos que o professor Luís Oliveira expôs nos últimos momentos de sua palestra buscando identificar quais seriam os que se encaixam na posição niilista. São eles:

 

O argumento da diversidade: se propriedades morais existissem, haveria acordo moral semelhante ao acordo a respeito das outras propriedades objetivas.

O argumento da estranheza: Se propriedades morais existissem elas seriam diferentes de tudo que conhecemos no mundo, e o conhecimento delas viriam de faculdades cognitivas diferentes de todas que conhecemos.

Argumento evolucionista: mesmo que não seja razoável que existam propriedades morais elas foram úteis para o desenvolvimento do ser humano.

Portanto, dos três argumentos acima expostos, apenas o argumento da diversidade não é uma posição niilista devido ao fato que considera que propriedades morais deveriam estar de acordo com a objetividade das outras propriedades existentes no mundo.

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