Pesquisa sobre autopercepção vocal com o uso de máscara já tem resultados

Pesquisa sobre autopercepção vocal com o uso de máscara já tem resultados

O uso de máscara é uma das medidas mais eficazes na prevenção contra o novo coronavírus. E esse equipamento de proteção se tornou uma peça chave na hora de se preparar para sair de casa, já que o uso de máscaras agora é uma medida de segurança obrigatória em todo o país. Com o uso mais frequente, as pessoas começam a apresentar algumas dificuldades de comunicação enquanto estão usando esse acessório. Isso chamou a atenção de um grupo de professoras pesquisadoras que notaram a relevância do assunto e decidiram estudá-lo.

A pesquisa intitulada “Efeito do uso de máscara na autopercepção vocal durante a pandemia de covid-19” foi conduzida pelas docentes do Departamento de Fonoaudiologia da Unicentro Ana Paula Dassie-Leite, Eliane Cristina Pereira e Perla do Nascimento Martins, e as professoras da Universidade Federal de Sergipe Vanessa Veis Ribeiro e Roxane de Alencar Irineu. A base para o estudo foram as respostas a um formulário online com perguntas relacionadas a questões como o esforço, a frequência, o desconforto, dentre outros aspectos percebidos pelas pessoas na hora de usar a voz quando estão com máscara  e quando estão sem.

Fundamental para a prevenção da covid-19, uso de máscara tem afetada a comunicação interpessoal

Segundo as professoras, mais de 500 pessoas responderam à pesquisa, sendo consideradas 468 respostas válidas, de pessoas com idade entre 18 a 59 anos. “Quando nós analisamos a amostra de forma geral, nós observamos que as pessoas referem sim que o uso da máscara tem alguns efeitos negativos na voz e na comunicação. Em relação a fadiga vocal, por exemplo, as pessoas se sentem mais cansadas pra falar quando estão de máscara e sentem mais desconforto também na região da garganta, da laringe, tanto em relação à frequência desse desconforto quanto em relação a intensidade desse desconforto”, detalha a professora Ana Paula.

Um dos principais objetivos da pesquisa foi, portanto, identificar quais as principais queixas vocais percebidas com o uso desse EPI e também avaliar como elas se relacionam com outros fatores, como o tempo que a pessoa usa a máscara ao longo do dia e as necessidades dela em relação à comunicação em sua profissão, por exemplo. Segundo a professora Ana Paula, a partir dos dados coletados foi possível traçar perfis dos indivíduos que têm relatado mais problemas com o manejo da voz enquanto estão usando máscara. “As pessoas que estão utilizando as máscaras diariamente no trabalho apresentaram mais dificuldade em todos esses aspectos de comunicação do que aquelas que estão usando a máscara somente para as atividades essenciais. Além disso, a gente observou alguns cruzamentos importantes, por exemplo, os profissionais da voz – as pessoas que usam a voz profissionalmente, que tem a voz como instrumento de trabalho e que usam bastante a voz enquanto trabalham – referem mais queixas”.

A partir dos resultados da pesquisa também foi possível comparar os impactos do uso de máscara em pessoas de diferentes sexo e idade, este último aspecto em especial, chamando bastante a atenção das pesquisadoras. “Em geral”, conta Ana Paula, “as mulheres referiram maior impacto da máscara na comunicação do que os homens  e, surpreendentemente, as pessoas mais jovens foram aquelas que mais referiram queixa relacionadas à voz e à comunicação com o uso da máscara quando comparadas com as pessoas mais velhas participantes do estudo”.

O uso de máscara pode tornar mais evidente o esforço para falar e também as dificuldades na coordenação da respiração enquanto a pessoa se comunica, já que o tecido disposto na frente do rosto forma uma barreira que diminui a projeção e a amplificação da voz. Segundo a pesquisa, o tipo de tecido da máscara em si não influenciou nas queixas relatadas pelas pessoas, mas sim a adaptação do acessório no rosto – aquelas que disseram usar máscaras mais apertadas foram as que mais referiram dificuldades à voz e a comunicação.

Pesquisadoras recomendam o uso de máscaras menos apertadas

Além de buscar uma máscara que fique confortável no rosto, outras orientações também são úteis para minimizar os efeitos negativos para a voz durante o uso desse equipamento de proteção. “Movimentar bastante os lábios e a musculatura orofacial para que os sons possam ser produzidos de forma precisa e, assim, possam chegar de forma mais adequada para o interlocutor. Além disso, reduzir um pouco a velocidade da fala e fazer mais pausas durante o discurso, porque esses dois recursos também vão ajudar as pessoas a compreenderem melhor o que você diz. Para aquelas pessoas que estão utilizando a voz profissionalmente, ou seja, que precisam utilizar a máscara por várias horas durante o dia e falando por muitas horas durante o dia, vale a pena verificarem se a utilização de um microfone, por exemplo, pode ser um recurso importante, porque o microfone pode fazer com que se poupe volume vocal e esforço vocal”, aconselha Ana Paula.

Com os dados tabulados e analisados estatisticamente, as professoras agora seguem para a fase final da discussão dos resultados para, então, fazer a submissão de artigo em periódicos científicos. Para a professora Ana Paula, a realização dessa pesquisa de forma conjunta, com contribuições da Unicentro e da Universidade Federal de Sergipe, traz ganhos para a realização de todas as etapas da pesquisa.“Essa parceria possibilitou que nós tivéssemos participantes de todas as regiões do Brasil, porque nós intensificamos os convites, de acordo com os nossos locais de principal atuação. Com essa parceria e com essa força tarefa de diferentes instituições nós pudemos otimizar o tempo e garantir a produção científica do conhecimento de forma mais ágil para a disseminação e divulgação dos resultados”, finaliza a docente.

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