Figura 1: Fóssil de crocodilomorfo baurusuchídeo. Museu de Zoologia da USP. Foto: Alberto M. Pilati.

 

Os fósseis são os objetos de estudo da paleontologia, a ciência que estuda seres vivos pré-históricos que estão extintos. Fósseis são os restos, impressões ou vestígios deixados por seres vivos que de alguma forma ficaram preservados em rochas por milhões de anos. Estes registros de tempos antigos podem ter diversos tamanhos, formas e origens; desde os pequeninos insetos até os enormes ossos de dinossauros.

Essas estruturas são muito importantes no estudo da evolução das espécies e das mudanças sofridas pelos ecossistemas, pelo clima e pela Terra em si. Eles nos permitem olhar para um passado distante e entender as transformações do nosso planeta e da vida que ele abriga. Normalmente, considera-se um fóssil qualquer material com mais de 11.000 anos de idade. Qualquer material mais novo que isso é chamado de subfóssil.

 

Processos de Fossilização

O processo de fossilização é lento e muito raro, sendo que depende de condições muito específicas para ocorrer. Estima-se que apenas 1% de todas as espécies que já viveram no planeta possuem algum registro fóssil. Para algo se tornar um fóssil, precisa ficar longe da ação de outros organismos, predadores ou decompositores, sendo rapidamente coberto por sedimentos em ambientes aquáticos (fundo de um lago, rio ou praia). Uma vez coberto por esses sedimentos, o processo de fossilização se inicia.

Há várias formas de fossilização, e o vídeo abaixo exemplifica as mais comuns:

 

Tipos de Fósseis

 

Os fósseis podem ser de dois tipos: somatofósseis ou icnofósseis. Os somatofósseis são os restos orgânicos (geralmente as partes duras) de seres vivos que morreram há milhares ou milhões de anos. Exemplos:

 

Ossos, dentes, conchas e carapaças: As partes duras dos animais são mais facilmente preservadas, pois resistem mais aos ataques de predadores e decompositores. De vertebrados, ossos e dentes são os mais comuns, enquanto de invertebrados, são as carapaças, conchas e exoesqueletos. Em casos excepcionais de preservação, pele, escamas, penas e até mesmo pelos podem ser preservados junto com alguns animais.

Figura 2: Réplica de esqueleto de Carnotaurus, um dinossauro terópode. Foto: Alberto M. Pilati. Museu de Zoologia da USP.

 

Troncos petrificados: Além dos animais, plantas também podem se tornar fósseis. Mais comuns são os troncos de árvores lenhosas, mais resistentes à decomposição. Quando fossilizam, são comumente chamados de troncos petrificados ou árvores petrificadas. As impressões de folhas, galhos, raízes e até flores também podem ser encontradas.

Figura 3: Tronco fossilizado de uma samambaia. Foto: Alberto M. Pilati. Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste.

 

Organismos preservados em âmbar ou no gelo: Árvores produzem resinas que, em contato com o ar, costumam se solidificar, criando uma espécie de “pedra” de resina que chamamos de âmbar. Às vezes, essa resina acaba aprisionando pequenos animais (como insetos, pequenos répteis e aves) antes de se solidificar, mantendo esses animaizinhos conservados por tempo até hoje indeterminado. Outro caso de preservação rápida e que dura muito tempo é o congelamento. Por exemplo, há os vários fósseis de mamutes e outros mamíferos que encontramos congelados em lugares muito frios, como a Sibéria.

Figura 4: Abelha de 100 milhões de anos presa em âmbar. Foto: George Poinar Jr.

Figura 5: “Lyuba”, um filhote de mamute de mais de 40 mil anos encontrado congelado no norte da Rússia. Foto: Ruth Hartnup.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os icnofósseis, por sua vez, são vestígios fósseis da presença de seres vivos extintos em um local, deixados enquanto eles ainda eram vivos. São os registros de atividades biológicas. Exemplos:

Pegadas: Algumas vezes, as pegadas de um animal acabam sendo preservadas na rocha. Isso ocorre quando, no passado, o animal caminhou sobre um terreno mole, como lama ou areia molhada, e o solo acabou endurecendo ao longo do tempo e se transformando em rocha, preservando esses traços.

Figura 6: À esquerda, uma trilha de pegadas fósseis de dinossauros. À direita, a foto de uma pegada de um dinossauro carnívoro. Fotos: cedidas pela Dr. Aline M. Ghilardi.

 

Tocas: Assim com muitos animais de hoje em dia, várias criaturas do passado viveram em tocas, túneis ou covis escavados no chão. E, de vez em quando, algumas dessas tocas antigas acabaram preservadas. No Brasil, um dos exemplos mais notáveis são as paleotocas escavadas por mamíferos da megafauna, como as preguiças-gigantes.

Figura 7: Pesquisador explora uma paleotoca escavada por uma preguiça-gigante extinta perto de Porto Velho, RO. Foto: Mary Profiro/G1.

 

Ninhos e ovos: Répteis e aves nascem de ovos de casca resistente postos em terra firme. Às vezes, esses ovos e ninhos acabam sendo cobertos por sedimentos e sofrem fossilização. Apesar de serem considerados icnofósseis, quando um desses ovos contém um embrião fossilizado, ele é chamado de somatofóssil.

Figura 8: Ovos de um pequeno dinossauro carnívoro descobertos no Deserto de Gobi, Mongólia. Foto: Eduard Solà/Wikimedia Commons; Museu CosmoCaixa Barcelona, na Espanha.

 

Coprólitos e urólitos: Assim como os animais de hoje, os seres do passado também tinham suas necessidades. Coprólitos são fezes fossilizadas de animais, que podem nos ajudar a entender suas dietas e as relações entre as espécies. Mais raros que estes são os urólitos, marcas deixadas na terra por um animal ao urinar.

Figura 9: Este coprólito descoberto no Canadá pertenceu a um dinossauro carnívoro. Foto: United States Geological Survey/Wikimedia Commons.

 

 

Tráfico de fósseis

O tráfico de fósseis é um assunto complexo. No Brasil, a coleta por pessoas não autorizadas e a venda de fósseis são ilegais, já que os fósseis são considerados bens da União. Porém, em muitas regiões fossilíferas, ainda mais onde as populações são mais pobres e desamparadas, a coleta amadora e a venda ilegal são um problema grave. Sem acesso a esses fósseis, seja porque foram parar em coleções particulares ou por terem sido vandalizados para criar peças mais “bonitas” e “chamativas” para venda, os paleontólogos perdem todo um registro e informações únicas para o estudo da vida na Terra. Fósseis são um patrimônio raro e de valor científico inigualável, cuja perda é eterna, já que um fóssil perdido ou destruído jamais poderá ser recriado.

Se você possui um fóssil em casa, o melhor que você pode fazer é doá-lo para o museu ou universidade mais próximo para que ele possa ser preservado e estudado pelos paleontólogos. A ciência agradece!

 

 

 

Acadêmicos responsáveis: Alberto Marques Pilati; Ana Flávia Tractz da Luz; Antônio Correa da Silva Filho; Eziel Jonh de Oliveira; Luana Cheliga de Souza.