Emergência do letramento crítico no ensino de línguas.

“Em minha fala parto do pressuposto de que a emergência do letramento crítico trouxe novas perspectivas para o ensino das línguas, redefinindo a ênfase no código, mantendo a abordagem comunicativa e criando uma dimensão critica. Para explicar como isso acontece, faço uma adaptação do modelo 3D, que trago dos Novos Estudos do Letramento para a pedagogia das línguas, propondo que o domínio pleno de uma língua envolve competência em três dimensões: operacional (saber como fazer); comunicativa (saber interagir com o outro); e crítica (saber usar a língua como um instrumento de poder). O caminho para esse domínio pleno da língua começa com a dimensão operacional, em que se percebe a língua como um conjunto de habilidades individuais a serem adquiridas pelo aluno e vistas como posse privada. A dimensão comunicativa aborda o deslocamento de foco, que vai do indivíduo para a comunidade; com a presença do outro, regras sociais são adicionadas ao uso da língua, e o aprendiz é obrigado a adaptar sua fala a diferentes contextos e interlocutores. Finalmente, a dimensão crítica pode doar ao sujeito uma nova identidade, com possibilidade de facilitar sua emancipação, usando os interstícios deixados em aberto pelo discurso dominante. A língua estrangeira que o aluno aprende pode fazer mais por ele do que apenas revelar um novo mundo, com novas maneiras de estabelecer comunicação com o outro; pode também mudar a realidade do mundo que o cerca e constituí-lo em um novo sujeito, mais crítico e comprometido com sua comunidade. No uso da língua, essas três dimensões ocorrem simultaneamente e integram um único evento de letramento. Faço a separação aqui por razões didáticas e históricas, tomando a liberdade de pressupor que, didaticamente, chega-se ao todo pelas partes e, historicamente, há uma evolução que começa com a dimensão operacional e termina com a crítica” – Prof. Dr. Vilson J. Leffa