Atando nós em busca de transpor o intransponível

A sequência de fotos foi desenvolvida no ano de 2020, na disciplina de Histórias das Artes ll, no qual o objetivo era produzir fotos inspiradas em artistas impressionistas, postando-as em uma conta no Instagram. A artista escolhida foi Mary Cassatt. Ao observar suas pinturas de mulheres reais, percebe-se a forte presença do trabalho manual, como crochê, bordado e tricô. Assim, foi decidido investigar as artes têxteis, algo que sempre atravessou minhas poéticas. Acredito que a ligação com o bordado é umbilical, passada de geração em geração, de mãe para filha, e por vezes o único momento de aprendizado de uma mulher, onde mulheres mais velhas compartilhavam histórias, ensinavam. Em uma época que mulher não tinha permissão de existir, era em grupos de bordados que aprendiam a escrever, bordando. Foi através do bordado que mulheres fortes criaram seus filhos, sozinhas, tonando-se artigo revolucionário sob o olhar artístico. Para a performance utilizei um fio de lã grossa como corda, tesoura pequena mas afiada, fazendo referência às opressões milenares, que são rompidas através de micropolíticas. Durante o trabalho de trançar o fio utilizando pontos de crochê, foi gravado um vídeo com duração de 30 minutos, porém não foi utilizado, visto que o objetivo são registros fotográficos. Através destes registros foi possível expressar a arte que poderia ser lida como limitadora e domesticadora de mulheres, para que pudessem ser “prendadas”, e na contramão, torna-se um ato libertário de independência e expressão. Nas fotos produzo crochê com as mãos, utilizando o fio que outrora me aprisionou, produzo uma peça para me proteger do frio, para me proteger da fome, assim como tantas mulheres fizeram para criar seus filhos. Bordo em meu peito, meu coração, a expressão artística que, em sua grande maioria, produzida por mulheres, ainda é pouco reconhecida, mesmo tendo sido trabalhada em movimentos de vanguarda. As mulheres de antes e de agora conquistam seus espaços e encontram maneiras de gritar o que acreditam e sentem, nunca foram passivas, sempre fortes e íntegras. Eis meu grito pela mulher-potência. “Mulheres, fios e liberdade. Desmanchando nós com as mãos e os refazendo em nova forma, criando expressão, autonomia e força. As amarras que nos prendem são viradas ao avesso e desatadas. Cortamos, costuramos e atravessamos com a agulha, o peito, e nos reconstruímos esticando cada fibra de tecido e linha, para escancarar a história de nós arrancada. Coragem! Eles são fortes, mas nós somos mais. Venceremos” (CYBULSKI, 2020).

Palavras-chave: Mary Cassatt. Artes têxteis. Feminismo. Foto performance.

 

Autoras: Bruna Caroline Cybulski; Graziella Medeiros Guadagnini

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