Cartografia: um processo de criação com colagem e bordado

No ano de 2020 após o início do ensino remoto devido a pandemia, os cursos de Bacharelado em Artes visuais da Universidade Estadual do Paraná (campus Curitiba I 2 ) criaram como alternativa para continuidade das atividades acadêmicas o Campo Remoto. Ele foi concebido como um conjunto de ações orgânicas e sujeitas a transformações e adaptações ao longo da sua própria realização. Para avaliação desse novo processo de ensino optou-se pelo uso da cartografia. Uma cartografia é, ao pé da letra, o estudo ou a elaboração de mapas. Atualmente vem sendo utilizada como metodologia de pesquisa e recurso avaliativo, partindo da ideia de que uma pesquisa ou um processo de ensino-aprendizagem podem ser visto como trajetória, que se desenvolveu em um determinado território. Nesse sentido, a cartografia permite a integração de elementos visuais (colagens, fotografias, desenhos, pinturas, vídeos e outros) e elementos verbais (palavras, textos, leituras, declamações e outros), a partir da qual fui registrando, analisando, descrevendo e criando o meu percurso dentro do território do Campo Remoto. A elaboração da cartografia, vista dessa forma, atravessou toda a realização do Campo Remoto e foi um registro, das trajetórias que realizei ao longo do meu processo de criação e aprendizagem. Apresento aqui três das 52 colagens, pinturas e escritas que produzi para elaboração de um livro de artista que constituiu a minha cartografia do Campo Remoto no ano de 2020. Inúmeros foram os temas abordados na cartografia, que no meu caso teve enfoque na vida e obra das mulheres artistas que apareceram nas aulas durante o Campo Remoto. Apresento particularmente três delas: “Conserto” foi produzida com base nas obras com bordado de Rosana Palazian, que é uma artista visual brasileira. Sua prática é realizada em diversas formas, com grande destaque para o bordado, é presente no campo artístico atual e sua obra debate questões de gênero. A segunda “Avulsa” é uma colagem bordado que produzi com base na biografia de Camille Claudel, escultora do final do séc. XIX foi assistente de Rodin, teve seu talento tardiamente reconhecido, devido a inúmeros fatores, incluindo seu irmão que não autorizou sua saída do sanatório, mesmo após liberação médica. “Crisálida” é uma pintura que fiz usando decalcomania inspirada nas obras de Remédios Varo, pintora surrealista naturalizada mexicana, produziu ao longo de sua vida inúmeras obras de inspirações fantásticas, seres mágicos e símbolos, provindos de sonhos, estudos esotéricos, alquimia medieval, assim como outros surrealistas ela também teve influência dos estudos de Freud e Jung, obteve reconhecimento tardiamente ao final de sua vida. As obras apresentadas possuem vestígios da cartografia, anotações, reflexões e procedimentos que culminaram no processo de criação e uso dos materiais aqui apresentados nessas colagens, pinturas e bordados. Optei pelas três imagens que apesar de terem referências em diferentes artistas em distintos contextos e épocas, para mim constroem uma narrativa do que é ser mulher e artista na nossa sociedade, uma constante luta por lugar, reconhecimento, pelo direito de existir e produzir artisticamente.

 

Palavras-chave: Cartografia. Processo criativo. Mulheres artistas. Técnica mista.

 

Autora: Maria Virgínia Gapski Giordani

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *