Obstáculos invisíveis refletem a falta de mobilidade urbana em Guarapuava

Obstáculos invisíveis refletem a falta de mobilidade urbana em Guarapuava

Fotoreportagem por Giovana Hössel

Com mais de 500 mil pessoas cegas e aproximadamente 6 milhões com baixa visão no Brasil (IBGE), a falta de acessibilidade nas cidades é uma realidade que afeta um grande contingente da população. Em Guarapuava, a situação não é diferente. Calçadas esburacadas, falta de piso tátil, lixeiras nos portões e postes no meio da calçada são alguns dos exemplos que demonstram o quanto existem obstáculos para as pessoas cegas conseguirem efetividade na mobilidade urbana.

Dessa maneira, a comunidade cega, além da luta diária para superar barreiras sociais, também precisa encarar as dificuldades relacionadas à mobilidade urbana.

“Além da falta de piso tátil, presente em poucas ruas, também temos calçadas irregulares e lixo deixado pelas pessoas. As sacolas enroscam em nossa bengala e prejudicam nossa locomoção”. Além da falta de sinalização e piso tátil, sacos de lixo e postes bloqueiam as calçadas do centro da cidade

O treinamento que Renilson faz, é parte de uma ação da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEVI). A associação emerge como uma luz de esperança para a comunidade com deficiência na cidade.

“Oferecemos treinamentos que abrangem desde a autonomia nos deslocamentos pela cidade até a realização de tarefas simples do dia a dia, como o pagamento de contas e compras” destaca a presidente da instituição. Ter a possibilidade de pagar suas contas sem precisar de ninguém é a meta de Renilson. Contudo, novamente, os desafios para isso são inúmeros.

Incapaz de enxergar as cores do semáforo, ele depende de sua audição para chegar ao outro lado da rua e, sem os sinais sonorizados, corre diariamente o risco de um atropelamento. ‘Não sabemos quando o sinal abriu ou fechou para nós, então é complicado”.

A falta de sinais sonorizados nos semáforos é apenas um dos desafios na travessia. Em alguns cruzamentos, o tempo disponível para os pedestres é de apenas 10 segundos, e até a pessoa cega perceber que pode atravessar, muitas vezes, o sinal já fechou novamente. Onde não há semáforos, as pessoas cegas também têm que enfrentar os desafios de carros em altas velocidades e a falta de travessias elevadas.

A presidente da APADEVI, Evanize Andrade, enfatiza que a organização está constantemente em busca de maneiras de melhorar a acessibilidade na cidade. No entanto, lamentavelmente, muitas pessoas demonstram falta de empatia e frequentemente desrespeitam os direitos das pessoas com deficiência visual.

“A questão de depender dos outros é complicado porque as pessoas não ajudam e quando tentam ajudar não sabem como conduzir a pessoa cega, muitas vezes puxam pela roupa ou pelo braço”

Calçadas estreitas e com obstáculos dificultam a passagem de pedestres

Estefany começou o treinamento mais recentemente. Para ela, a falta de travessias elevadas também prejudicam sua mobilidade. A estudante não se sente segura para caminhar desacompanhada pela cidade. “É difícil atravessar as ruas porque não temos a certeza que os carros vão parar” Além da falta de acessibilidade ela ainda precisa lidar com a falta de empatia da maioria das pessoas que não oferecem ajuda e ainda a desrespeitam.

A prova de que a mobilidade urbana de Guarapuava é desafiadora para as pessoas cegas é que Estefany, enquanto treinava, bateu com a cabeça em um poste e logo depois já encontrou um buraco na calçada. Se não estivesse com a bengala ou não sentisse o desnível, a jovem poderia ter caído no meio da rua.

Os acidentes são recorrentes, como conta Vinicius Bacil, aluno da Apadevi. “Teve uma vez que eu já cai durante um treinamento por causa de um desnível na calçada” , relembra.

Melhorias previstas?

Evanize destaca que algumas ações para melhoria da mobilidade já foram iniciadas. Recentemente, em parceria com o Procon, foi firmado o objetivo de cumprimento dos direitos estabelecidos pela Lei Municipal nº 2.042/2012 e pela Lei Estadual nº 18.419/2015. Essas leis exigem que as empresas no ramo alimentício disponibilizem, no mínimo, um exemplar de cardápio completo em sistema de leitura em Braille, garantindo, assim, a acessibilidade para pessoas com deficiência visual.

” Com essa parceria, esperamos que agora os estabelecimentos fiquem mais acessíveis, nossos alunos também têm o direito de saber o que tem pra comer nos lugares” Apesar de ser uma exigência legal, até este ano, apenas poucos estabelecimentos haviam cumprido essa obrigação.

Conforme orientação do Procon, em abril deste ano, os estabelecimentos foram informados sobre a obrigatoriedade dos cardápios adaptados, tendo um prazo de até 30 dias para iniciar a adequação às normas. “Em abril foi feito uma inspeção do Procon buscando o cumprimento desta lei né e o prazo eram 30 dias, mas até agora os cardápios não ficaram prontos”.

 

Emancipação e liberdade

” A gente só quer o mínimo de acessibilidade e o respeito das pessoas, poder frequentar mais lugares na cidade” o depoimento de Vinícius afirma que as pessoas com deficiência só desejam o mínimo de acessibilidade ao qual é seu direito.

Os esforços da APADEVI para garantir essa inclusão são notáveis. No entanto, a jornada para uma Guarapuava verdadeiramente inclusiva está longe de terminar. É essencial que toda a comunidade se una, mostrando empatia e respeito, para criar um ambiente onde as pessoas com deficiência visual possam se locomover com segurança e independência.

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