Artistas independentes: a vida no ‘Liquidificador’ de Guarapuava
por Ana Clara de Sá Gaspar
Segundo a lei brasileira, artista é “o profissional que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de qualquer natureza, para efeito de exibição ou divulgação pública, através de meios de comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de diversão pública”. Porém, pode-se considerar um artista muito além desta definição. É aquele que, através da sua visão de mundo, desenvolve o intelecto, educação, inclusão social, opinião e entretenimento ao seu público com seu trabalho.
Apesar de admirado, as chances de grande visibilidade do trabalho de um artista são pequenas, especialmente aqueles que são independentes e não têm o apoio e investimento de terceiros. Ainda assim, pessoas pretendem seguir essa vocação na cidade de Guarapuava, em diferentes vertentes da Arte. Mas o quanto esses artistas são valorizados pelo seu trabalho? Como a cidade recebe suas artes?
Todas as histórias que serão apresentadas a seguir, obtidas pelo evento “Arte no Liquidificador”, têm um ponto em comum: a crença de que Guarapuava apresenta cada vez mais espaços e públicos para a Arte e seus criadores.
Ana Paula Alves, Ana Caroline Marcondes e Guilherme Lirma trabalham artisticamente em customizações de peças de roupas e acessórios, e começaram a investir de maneira mais profissional há dois meses. Por enquanto, seu intuito principal é mostrar sua
arte, mas veem uma futura possibilidade de criar uma loja.
Júlia Skavronski é de Prudentópolis e expôs seu trabalho pela primeira vez no evento Arte no Liquidificador. Sempre foi muito atraída pela visualidade, e considera a produção de arte um caminho que encontrou em sua vida. Acredita que seu público é um pouco limitado, mas tem o objetivo de trabalhar exclusivamente com isso, mesmo não sendo possível no momento.
Marileia Cardoso tem 36 anos e produz crochês desde os 12. No começo, fazia sua arte para si mesma, mas por conta do interesse de muitas pessoas, resolveu empreender neste trabalho. Ganha certa remuneração com suas peças em crochê, e acredita que o público de Guarapuava, sua cidade natal, consome bastante sua arte hoje em dia.
Eric Juan Ferreira começou a dedicar-se profissionalmente às suas ilustrações durante os últimos quatro anos, mas é aquele clássico de artista: “desenho desde sempre”. É formado e trabalha na área de Administração, por isso, normalmente desenha em seu tempo livre e, apesar de obter certa renda, por enquanto não é possível sustentar-se com sua arte. Eric é de Guarapuava e acredita que a cidade está cada vez mais receptiva aos artistas, por isso deseja participar de mais eventos do tipo: “eu tenho que fazer parte, se eu quero que isso seja melhor, eu preciso estar participando”.
Emily Rabel produz sua arte há muito tempo, e começou a vender há aproximadamente 6 anos, aperfeiçoando sua técnica e participando de feiras de arte. Suas ilustrações são muito baseadas em cultura pop, como filmes e séries, mas também faz retratos
sob encomenda. Confessou que talvez queira trabalhar exclusivamente com arte “quando der dinheiro de verdade”.
Jonathan Delgado, sob o nome artístico de Jonathan Bemol, desenha desde criança, e iniciou de maneira profissional e remunerada entre os anos de 2017 e 2018. Formado em Publicidade e Propaganda pela Unicentro, acredita que a universidade foi um grande apoio para o início de sua carreira artística, através de feiras de arte e rede de contatos.
O guarapuavano atualmente mora em Curitiba, e afirma que em Guarapuava sente-se mais acolhido por sua arte: “a galera sempre gosta de comprar muito e consomem muito o trabalho”. Já em Curitiba, por ser uma cidade maior, não sentiu isso na mesma intensidade.
Quanto ao seu público, afirma: “tem uma galera que sei que vai curtir e comprar as artes: galera que curte música brasileira, galera que é um pouco mais dos cursos de arte, músicos… Nunca produzo pensando nisso, produzo pensando em expressar o que eu sinto mesmo, mas [o perfil das] pessoas que compram é sempre meio certo”.
Muito inspirado pelo irmão que também desenha, Gabriel Paschoal acabou se encontrando na arte. Produz desde 2019, quando tinha cerca de seus 16 anos de idade. Acredita que suas artes são melhores recebidas de maneira digital, enquanto de maneira física não há tantos espaços públicos para seu trabalho.
“Tenho a ciência de que é muito difícil viver disso, por mais que eu queira. Eu sinto a necessidade de ter a expressão, e [a arte] é um bom motivo.”
Joana Moreira declara que cria todo tipo de arte e que gosta de se expressar. Produz desenhos e pinturas desde os sete anos, e começou a produzir bordados há cerca de dois anos. A guarapuavana acredita ter um público mais jovem, e o que a motiva a continuar sua arte é o apoio, saber que tem gente que gosta”.
Faz pouco tempo que Isaac Sacks expõe seu trabalho, mas já sente certo acolhimento
do público. Desenha desde criança, mas investiu de maneira mais profissional aos 14 anos, e
deseja ter a arte como seu trabalho e se manter somente com isso.
“O público que eu tenho são pessoas que têm o mesmo gosto que eu, e tem as mesmas coisas em comum, então sinto que é por isso que sou acolhido nesses espaços.”
O grupo Sagaz e Frugal é composto pelo vocalista e violonista Gabriel Panisson, pela cajonera Yasmmin Costa e pelo baixista João Felipe Horchak. Gabriel é amigo de João há mais de 10 anos e namorado de Yasmmin há um ano. Criaram o grupo musical para o evento, mas esperam que dure para a vida toda.
Gabriel e João são de Guarapuava, enquanto Yasmmin é de Uberlândia, e ficaram muito felizes com a recepção do público do evento. João assumiu ser muito grato principalmente pelas pessoas da região do bairro Santa Cruz: “É uma galera muito envolvida com arte e cultura, e ‘os cara’ estão sempre fazendo, prestigiando e somando, e é o público que tá aqui hoje e é o que faz a cena rolar”.Eles tocaram no evento gratuitamente, mas acreditam não ser possível viver somente de sua arte, pois os investimentos financeiros em instrumentos são muito caros.
Mariana Santos começou a produzir suas próprias peças de roupas e acessórios quando fez uma bolsa para si mesma e, ao publicar em suas redes sociais, os internautas se interessaram e a questionaram se ela vendia. A partir disso, começou a estudar moda para continuar com este trabalho. Alega que seu público se interessa principalmente pelas peças mais divertidas e diferentes.
Como dica para alguém que quer investir na arte, Mariana afirma que “você tem que começar do jeito que você pode, que com o tempo você vai conseguindo, você vai melhorando, e você vai ver que vai dar certo”.
Thalita Andrade se dedicou às ilustrações em 2015, quando criança, e, apesar de dar certas “paradas”, sempre voltava à arte. Ela é de Irati e acredita que em Guarapuava seu trabalho é mais valorizado do que em sua cidade natal. Sua principal motivação na área é sua irmã, também artista, que a incentiva a ter ideias e participar de eventos: “ela me ajudou muito a desenvolver esse meu lado artístico, então foi muito importante pra mim”. Não pretende seguir a área artística como trabalho principal, pois deseja trabalhar na área de Farmácia, mas acredita que levará sua arte para a vida toda.
A vida artística independente pode gerar muitos desafios, mas eles não são motivo para impedir artistas de realizar aquilo que mais amam: conquistar as emoções das pessoas com seus talentos.
E tudo isso é ainda mais grandioso quando os locais em que convivem estão dispostos a proporcionar esses momentos de diversão e sentimentos artísticos. Felizmente, do ponto de vista de diversos criadores, Guarapuava está cada vez mais apta a gerar espaços e visibilidade para uma arte verdadeiramente liquidificada.