A influência dos animais de estimação na saúde mental dos humanos
Por: Maria Eduarda Melo
Aproximadamente 720 milhões de pessoas sofrem com transtornos mentais diversos no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde e 74% das pessoas relataram melhora na saúde mental em decorrência da relação com seu animal de estimação, segundo a Human Animal Bond Research Institute. Considerando que algumas pessoas preferem não aderir a métodos de tratamento, ter um animal de estimação pode trazer muitos benefícios para a saúde mental, pois animais podem diminuir o estresse, fazer o humano desenvolver responsabilidade, promover uma conexão emocional, distrações positivas, fazer companhia, ajudar na prática de exercícios e se tornar um apoio emocional.
O Instituto Pet Brasileiro de 2021 afirmou que existem 149 milhões de animais de estimação no Brasil, apontando então que 70% da população tem um pet em casa, principalmente cães e gatos. Os tutores buscam em seus animais um companheiro que traga a sensação de ser amado sem pedir nada em contra. Assim como afirma Ana Júlia Collen, que adotou seu cachorro em 2023 com o foco de ser um cão de apoio emocional e desde lá notou melhora no seu emocional.
“Adotei o meu cachorro Pipo há seis meses em um momento difícil da minha vida, sentia necessidade de ter companhia de alguém que não me julgasse e pudesse me acolher, exatamente como ele faz”, afirma Ana Júlia
A melhoria social fornecida pelos animais de estimação se dá pelo aumento da interação social, que acarreta em efeitos fisiológicos, neuroquímicos e psicológicos positivos. Levantamentos da Western Carolina University mostraram que os pets, além de ajudarem no bem-estar psicológico, ainda contribuem na saúde física de seus donos, ajudando a aumentar as taxas de sobrevivência, estimulando os exercícios físicos e como consequência, contribuem para a redução do índice de ataques cardíacos. Maria Eduarda Berton, de 13 anos, afirma que sempre que se sente emocionalmente mal caminha com sua cadela.
“Os passeios que fazemos me acalmam em momentos em que minha saúde mental está abalada e com o tempo a rotina de caminhadas trouxe benefícios para a minha saúde física e da minha cadela também”.
“Minha cadela Mini é minha principal companhia quando estou mal, a presença dela me dá suporte e força. A rotina que criamos faz bem para nós duas, além de nos aproximar cada vez mais”, reforça Maria Eduarda
A importância dos animais de estimação em período pandêmico
30% dos pets de estimação foram adotados durante o período pandêmico que trouxe a sensação de solidão por conta da quarentena, segundo o levantamento realizado em 2021 pela Comissão de Animais de Companhia. Dando ênfase no papel positivo que os animais de estimação podem ter na rotina de pessoas com doenças psicológicas e como em alguns casos a companhia de um animal pode trazer melhora direta ou indireta, levando em consideração que o contato físico com o animal de estimação pode ajudar a estimular os níveis de serotonina, um neurotransmissor que regula os níveis de humor, ajudando a enfrentar a solidão, estresse, depressão, ansiedade, entre outras doenças.
Emilly Zatti, de 18 anos, afirma que no período do Covid-19 começou a desenvolver problemas de saúde mental e que foi a companhia de sua cadela que trouxe motivações para sua rotina e fez a sensação de solidão diminuir.
“A época de quarentena me distanciou de todos os meus amigos, então comecei a desenvolver depressão por me sentir solitária constantemente, foi na minha cadela que senti um amor sem julgamentos e percebi que cuidar dela todos os dias me trazia motivações para a rotina, sabendo que eu teria que levantar da cama diariamente pois ela necessita de cuidados”.
Emilly aos poucos foi reconhecendo que indiretamente o amor e cuidado que tem pelo seu animal era o que a trazia forças para enfrentar seu dia a dia. “A época de pandemia foi muito difícil para mim mas com a presença da Belinha na minha vida consegui superar esse momento delicado.
A relação de parceria com animais de estimação que surgiu muito tempo atrás ganha novos aliados num cenário pós-pandemia, em que pessoas ficaram mais isoladas e encontraram nos animais a companhia necessária. Segundo a psicóloga Kamila Stocco, dependendo da doença psicológica que a pessoa possui ela fica incapacitada de cuidar de um animal, como por exemplo pessoas em quadro de depressão profunda, que aumentaram em época de quarentena.
Nesse caso a pessoa tem dificuldade em realizar tarefas básicas da rotina como tomar banho, se alimentar ou levantar de sua cama. Ter um animal de estimação em casos semelhantes a esse pode ser um risco para o tutor e para o animal pois a pessoa não está apta a cuidar dele e isso pode acabar trazendo pioras para sua doença e riscos para a saúde e vida do pet. Em outras situações ter um animal acaba trazendo uma melhora no seu quadro, ressaltando que as possíveis melhorias na sua saúde mental são relativas dependendo de cada caso pessoal.
Os animais não podem ser responsabilizados pela saúde mental de seus tutores, apenas podem colaborar de forma positiva dependendo do caso. A veterinária Larissa Nandin afirma que os pets também podem desenvolver doenças mentais como depressão, ansiedade, transtornos obsessivos compulsivos, redirecionamento de emoções e estresse crônico. Os problemas podem aparecer por conta dos animais ficarem muito tempo sozinhos em casa ou ao se sentirem abandonados quando os tutores viajam.
Por isso é necessário ficar atento aos sinais sutis que os animais demonstram, se seu pet está mais quieto do que o normal, evita interações, arranca pelos ou se automutila, está com o sono e alimentação alterados ou fica muito inquieto, busque ajuda de um médico veterinário especializado em comportamento e psiquiatria animal.
Juciara Cordeiro afirma sempre prestar atenção nos sinais que seu cachorro apresenta, para evitar que ele desenvolva alguma doença psicológica, pois esse assunto é tão sério quanto os problemas de saúde mental dos humanos.
“Tenho meu cachorro Fred desde 2014, para mim é impossível conviver com ele diariamente e não cultivar um amor sincero e preocupações como se fosse realmente meu filho. Ele é meu companheiro desde que me mudei pra outra
cidade e moro longe da minha filha”.
Os problemas de saúde mental se fazem presentes na vida dos humanos e também dos animais de estimação, porém na maioria dos casos a parceria de tutores com seus pets traz benefícios juntamente para os dois. Dione Mendes afirma que sua cadela Frida é a primeira a notar quando ela está mal emocionalmente e que ela tenta prestar atenção no comportamento de sua cadela para poder cuidar dela da mesma maneira que se sente cuidada.
“Faz 10 anos que a Frida está na minha vida, meus filhos já cresceram e seguiram suas vidas e ela continua comigo diariamente. Uma dá apoio a outra de alguma forma e eu procuro prestar atenção nos sinais dela assim como ela faz comigo”.