A importância do atendimento psicológico gratuito para estudantes

A importância do atendimento psicológico gratuito para estudantes

Como a saúde mental dos estudantes está sendo afetada e quais os locais em Guarapuava para busca de atendimento gratuito.

 

Mais e mais alunos estão sofrendo as consequências das doenças do século 21, como são conhecidas, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de burnout, transtornos alimentares, entre outras. Todas essas doenças estão normalmente ligadas à saúde mental, visto que a cansativa rotina, com poucas horas de sono, alimentação desiquilibrada, medo do futuro e do fracasso vem assolando boa parte de quem está saindo da escola e indo para a faculdade, ou deixando-a para ingressar no mercado de trabalho.

Em 2021, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) reuniu esses dados e ainda mostrou que 56% dos adultos relataram que algum adolescente no domicílio apresentou sintomas relacionados ao bem-estar mental na pandemia, como mudanças de humor e irritabilidade, alteração no sono e a diminuição do interesse em atividades.

Durante a pandemia estudantes mudaram sua rotina, ficando isolados dentro de casa e em muitos casos seus problemas psicológicos foram intensificados ou assim surgiram. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ayrton Senna com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, é mencionado o forte impacto que a pandemia e o isolamento social proporcionou nos estudantes, cerca de 70% destes relataram quadros de depressão ou ansiedade quando consultados a partir do retorno ao ensino presencial.

As doenças não são somente no corpo físico, mas trazem instabilidades emocionais, afetando a mente. De acordo com o relatório mundial de saúde mental, publicada pela ONU (Organização Das Nações Unidas), a saúde mental é parte integrante do bem-estar e um direito humano básico.

Etiene Rabel Corso, assistente social da Unicentro, enumera que estudantes os quais vieram de dois anos de estudos online não estão conseguindo socializar adequadamente, pois tiveram que sair do ambiente seguro que era sua casa, para estar em outros locais. Manifestando crises de ansiedade, crises de pânico e até abstinência do próprio celular, que havia se tornado um item essencial no período de aulas online, são elencadas por ela, como recorrentes queixas de relacionamento entre turma, gerando muitos conflitos, a solidão e distância de casa.

Dentro desse âmbito, recentemente a OMS (Organização Mundial da Saúde) trouxe a maior revisão mundial sobre saúde mental desde a virada do século XX. Em 2019, segundo esse estudo, quase um bilhão de pessoas, incluindo 14% dos adolescentes do mundo, sofriam com algum transtorno mental. É preocupante, pois segundo o relatório, o suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% destes ocorreram antes dos 50 anos de idade.

A Organização Mundial da Saúde avaliou em 2020, que devido a pandemia do Covid-19, criou-se uma crise ainda pior na saúde mental. Fora estimado que ocorreu um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão e que em muitos casos houve a interrupção dos tratamentos. Além disso, a OMS aponta que os governos no mundo só gastaram em média 2% dos seus orçamentos de saúde com a área mental.

Por que taxas tão altas de transtornos mentais ocorrem nessa categoria? O medo do futuro pode estar entre um dos motivos, mas algumas vezes não se tem apenas uma causa, em muitos casos são conjuntos de fatores que desencadeiam medos, inseguranças e ansiedades. Sem o tratamento adequado, podem vir a ocorrer, como cita a pesquisa acima, mais e mais números de suicídios, pois para acabar com a dor e por não saber lidar com essa sensação que assola, a única “saída” encontrado é este, tão triste e desolador.

Ainda, de acordo com OMS, o Brasil é visto como o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Mesmo com esses índices altíssimos, muitas pessoas não têm ou não procuram a ajuda médica adequada para tratar esses problemas.

É certo que o tratamento de saúde mental é complexo, na maioria das vezes deve ser aliado a um conjunto de profissionais, como psicológicos, terapeutas, psicanalistas, psiquiatras, psicoterapeutas. Muitas vezes, o indivíduo não tem condições financeiras para arcar com todo esse leque de profissionais que precisa buscar.

Existem pessoas que procuram em um primeiro momento, apenas o atendimento psicológico, por ser mais viável, porém em alguns casos somente este não resolve o problema, precisando ser aliado a um tratamento farmacológico, conhecido como somático, através de remédios, pois as doenças vão além de apenas confusões psicológicas.

 Ocorrem casos que o indivíduo não pode buscar nem a ajuda psicológica e muito menos através de remédios, visto que os dois podem ser caros.

 

Diante disso, entra-se em pauta a necessidade de discutirmos o atendimento psicológico de maneira gratuita e nesta reportagem voltada para os estudantes.

 

Como estes membros da população podem conseguir atendimento adequado de maneira gratuita aqui em Guarapuava? Os caminhos disponíveis em um primeiro momento, são por meio das UBS (Unidade Básica de Saúde), por regra, este costuma ser o primeiro contato que as pessoas têm com o atendimento gratuito, através muitas vezes de um clínico geral, para então seguir com encaminhamento com um psicólogo. Ainda, pode-se procurar ou ter encaminhamento para o Caps (Centros de Atenção Psicossocial), pois este consta com uma rede multidisciplinar de profissionais que tratam a saúde mental de maneira integral.

Dentro do CAPS, de acordo com o Ministério da Saúde, existem algumas modalidades, cada um trata de diferentes pacientes em diferentes meios. O CAPS I e II é o atendimento de todas as faixas etárias, com transtornos graves e persistentes. No I, para cidades com pelo menos 15 mil habitantes e no II com no mínimo 70 mil. Já no CAPS III, é o qual consta com 5 vagas de acolhimento noturno e observação, também para todas as faixas etárias. Serviços estes de caráter aberto e comunitário voltados aos atendimentos de pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental.

Existe ainda o Caps AD, que é para o tratamento específico de álcool e drogas, para todas as faixas etárias. E o AD III que é a mesma categoria do anterior, mas com as 5 vagas de acolhimento noturno e observação. O tratamento de crianças e adolescentes é realizado através do CAPS I, mas este em cidades com pelo menos 70 mil habitantes. O objetivo do CAPS, segundo o Ministério da Saúde é atender pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, prestando cuidado e atenção psicossocial e sempre buscando preservar a cidadania da pessoa.

Outro método que demonstra eficiência são as clínicas-escola, como por exemplo a Clínica RealClin da faculdade Campo Real, que consta com atendimentos multidisciplinares voltados para a comunidade. Atualmente, são realizados serviços de biomedicina, psicologia, nutrição e medicina. A partir do próximo ano, serão realizados também de fisioterapia. Esses atendimentos são realizados por estudantes que se encontram no internato (etapa obrigatória dos cursos de graduação, durante a qual o estudante é submetido a um modelo de ensino em serviço inserido em unidades de saúde, sob a supervisão docente ou de um preceptor), e por aqueles realizando estágios, no último ano.

Além das clínicas escolas formarem profissionais mais qualificados, trazem benefícios a população, trazendo atendimentos os quais não poderiam ser realizados por muitas pessoas se não fosse através desse método.

A RealClin, conforme cita seu coordenador Guilherme Aurélio Oliveira, sempre busca aliar todas as áreas, pois a pessoa pode chegar buscando certa especialidade, mas na avaliação é notado que também necessita de outra. Para a realização de quaisquer dos atendimentos, é necessária uma triagem, que consiste em realizar uma consulta com assistente social própria da clínica. Após essa triagem, a pessoa é encaminhada para a especialidade necessária.

Na área da psicologia, consta a maior procura dentro da clínica escola. São realizados, em média anual 5 mil atendimentos, conforme relata Guilherme Oliveira. Ele cita que o fato da gratuidade do serviço é o que leva tantas pessoas a buscarem o atendimento, pois somente desta maneira conseguem realizá-lo.

A clínica ainda consta com parcerias com escolas, institutos, município, CAPS, onde são encaminhados crianças, adolescentes e adultos para o atendimento. Essa parceria é benéfica para ambos os lados, pois muitas vezes o município tem mais demanda do que profissionais e assim acaba não conseguindo atender toda a população. Então, de certo modo, se um professor analisa que o aluno necessita de ajuda e não consegue pelo órgão municipal, pode encaminhá-lo para a RealClin.

Também na cidade de Guarapuava, a faculdade UniGuairacá possui uma clínica escola, a Policlínica Guairacá, que consta com atendimento psicológico para alunos, professores, colaboradores e comunidade regional. Também realiza atendimentos pelos acadêmicos do 9º e 10º período do curso de psicologia. São aceitos convênios e ainda realizados atendimentos particulares.

Na Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), há a Coorae (Coordenadoria de Apoio ao Estudante), aberta no ano de 2018, possui a finalidade de propiciar aos estudantes condições para o acesso e permanência no ensino superior e saber quais as dificuldades enfrentadas no momento pelos estudantes.

Para se buscar o atendimento, pode ser por demanda espontânea, através dos telefones, por protocolo, ou indo presencialmente a Coorae, também pode ser realizado através de encaminhamento dos próprios professores que notaram a necessidade desse aluno. Além disso, pode ser realizado atendimento online, através do aplicativo SaúdePRonline.

Alessandra Seratto, psicóloga responsável, explica que no primeiro atendimento é realizada uma triagem psicossocial em conjunto, psicóloga e assistente social. É realizada uma investigação de quais causas estão atrapalhando no processo de ensino do estudante e para saber qual a demanda específica deste. Após isso, é feita uma triagem de saúde mental, porém nem todos os casos são atendidos na Coorae, pois o serviço está sendo estruturado e alguns necessitam de um tratamento mais longo, sendo encaminhados para o CAPS, CRAS ou UBS, este último serviço a Unicentro possui parceria que disponibiliza alguns atendimentos semanais para alunos.

A psicóloga responsável menciona que o atendimento psicológico da coordenadoria se dá através de acolhimento, escuta, avaliação e identificação de qual o problema deste estudante. A maior demanda está nos primeiros anos dos cursos, ou ainda naqueles que estão no primeiro ano do presencial, por conta disso, estes estudantes possuem dificuldade de adaptação, pois estão morando sozinhos, longe muitas vezes de casa, onde se encontram em uma mudança radical de rotina, gerando uma série de sintomas, desencadeando crises de ansiedade, sintomas de depressão, crises de pânico.

Um dos objetivos futuros do programa, é que tenham parcerias, convênios com profissionais particulares, esses ofertariam atendimentos através de tarifas sociais, que seriam mais baixas, justamente para atender a grande demanda de estudantes que vem necessitando de atendimento.

Esse período da universidade por si só é difícil, mas através de apoio especializado pode ser minimamente seguro e acolhedor. Uma vez que, conforme relaciona a assistente social Etiene, a universidade é uma instituição que não se limita somente à educação, pois para o aluno ter condições de desenvolver todas as suas habilidades, várias situações se atravessam, como as econômicas, psicológicas, de saúde.

A jornalista Barbara Giacomitti, recém-formada pela Unicentro, precisou do atendimento psicológico gratuito quando estava concluindo seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), através do acolhimento de sua orientadora, foi encaminhada para uma das pessoas que fazia o atendimento na universidade. O trabalho exaustivo que enfrentava na época, com o estágio remunerado de seis horas por dia e três horas do estágio obrigatório, TCC e as demais matérias da faculdade a levavam a pensar que não daria conta de tudo.

Ela realizou aproximadamente três meses de tratamento e elenca que os benefícios trazidos foram inúmeros, começou a se priorizar em relação a muitas coisas, deu conta do TCC, conseguiu formar, pois aprendeu a se organizar, todo o desespero que sentia foi diminuindo. Ainda relata que, como ela não possuía condições na época para realização de um tratamento particular, sabe que muitos alunos também não possuem e que o fato de existirem maneiras de buscar atendimento psicológico gratuito contribui para a escuta, acolhimento e melhora no rendimento desses alunos, tal como a auxiliou. Ela menciona que, se não tivesse tido o acolhimento mediante a professora que verificou sua necessidade, talvez não tivesse conseguido todos os seus objetivos e que este foi um divisor de águas para superar a reta final do curso.

Para buscar atendimento e mais informações para o agendamento psicológico acesse a página da Unicentro www3.unicentro.br/apoioaoestudante ou pelo e-mail assistenciaestudantil@unicentro.br. Ainda, pelo telefone (42) 3621-1387.

Já com a finalidade de contatar o CAPS, os telefones para contato são: (42) 3622-1427 ou (42) 3622-2399.

Os atendimentos da clínica-escola RealClin são realizados na Rua Comendador Norberto 1128, Bairro Santa Cruz. Para mais informações e solicitação do agendamento psicológico acesse a página da faculdade Campo Real, www.camporeal.edu.br ou pelo e-mail realclin@camporeal.edu.br. Ainda, pelo telefone (42) 3621-5200 ou WhatsApp (42) 8871-1540.  Já na clínica-escola Policlínica Guairacá, os agendamentos e informações podem ser obtidas pelo telefone (42) 3035-0268. 

 

Texto: Bruna Carolina Guzzo

Edição: Anelize Pina Marques

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