A crônica da mudança

Todos os anos eu mudo em algum aspecto, seja de casa, ambiente, físico, amigos ou de vida. Mas o que não muda em nenhum momento é o medo da transformação, o sentimento de estar caindo e, no meu caso, realmente posso estar caindo, pois caio e esfolo os joelhos como mais ninguém.

Meus joelhos estão calejados e minha vida em constante mudança, quando acordo, penso: “hoje irei me transformar em qual aspecto”? Mudanças esfolam, assim como os joelhos, com marcas e feridas. E elas trazem algumas dores e reflexões, como quando minha casa está desarrumada, sinto que minha vida está desarrumada, sem ordem, sem cronograma.

Quando perco algum amigo, real ou metaforicamente, sinto que uma parte de mim muda, porque minha vida muda. Como quando não tenho mais as comidas gostosas de minha mãe e preciso cozinhar, mesmo que muito mal, pois senão, ninguém o fará. Inclusive, percebo que mudei e perdi uma parte de minha narrativa, pois durante anos era natural almoçar com a companhia dela e agora passo os dias almoçando sozinha, olhando para uma televisão.

Quando a noite chega e me pego sozinha dentro de uma quitinete pequena, após ter realizado várias funções durante o dia, penso que deveria e poderia ter valorizado mais as pequenas experiências, como a comida da minha mãe, momentos do futebol com meu pai, as histórias do meu irmão, a chegada na casa da minha vó e o bolo de chocolate que só ela me oferecia. Os amigos com os quais parei de conversar pela distância e às vezes pela preguiça desisti de encontrar, pois os veria em outro momento. Ocorre que, em alguns casos, esse momento não chega, seja na vida, na família, nas amizades.

Precisamos valorizar as pequenas experiências que já desfrutamos. Saber que as mudanças são como joelhos esfolados, deixam sinais e alguns nunca fecham de verdade. 

Crônica: Bruna Carolina Guzzo

Edição: João Vitor Marques 

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