Equoterapia: a relação homem e animal
Os benefícios da terapia com cavalos no tratamento de doenças
A equoterapia teve início no Brasil em 1989, é uma terapia assistida por cavalos. Um método terapêutico que utiliza o cavalo por meio de abordagens com diferentes disciplinas nas áreas da saúde, educação e equitação. Diferente de outras formas de tratamento, essa, trabalha o ser humano de forma física, psíquica e social, utilizando os movimentos repetitivos do cavalo para estimular respostas dos pacientes, o que auxilia no equilíbrio, na mobilidade, na postura, no fortalecimento muscular e na interação social.
A terapia é capaz de diminuir a agressividade, tornar o paciente mais sociável, diminuir antipatias, construir amizades. Além de treinar padrões de comportamento como: ajudar e ser ajudado, encaixar as exigências do próprio indivíduo com as necessidades do grupo, aceitar as próprias limitações e as limitações do outro. O estímulo e desenvolvimento da mente e do corpo ocorrem com frequência, o que ocasiona uma melhora nas funções neurológicas.
A psicóloga Edenise Correia que trabalha há mais de oito anos com equoterapia, relata um caso em que essa forma de terapia teve muitos benefícios para o paciente que ela atendia. “Ele foi um dos meus primeiros pacientes, ele chegou com três anos, no começo foi muito difícil, ele chorava muito e não falava nada. Eu fui psicóloga dele por cinco anos, e nesse tempo eu pude ver o desenvolvimento, e as outras terapias que ele fazia também ajudaram muito, mas eu via que com a equo ele tinha um desenvolvimento muito melhor”, comenta Edenise.
Edenise começou a trabalhar com equoterapia quando a irmã mais nova teve um AVC. Na época ela só era formada em Psicologia e não tinha nenhuma especialização ou conhecimento mais aprofundado sobre equoterapia. Ela conta que a irmã fez várias terapias e que, depois de uma recomendação do médico, a irmã começou a fazer equoterapia. “Foi depois de levar por anos minha irmã nas terapias que eu comecei a me interessar nessa área, fiz especialização e depois de um tempo comecei a trabalhar na APAE Rural de Guarapuava. A equo tem benefícios inimagináveis, eu fiquei lá por seis anos e vi uma evolução muito grande em cada paciente que tive.”
Como é realizada a Equoterapia?
Para a realização da equoterapia é necessária durante a sessão um guia que conduz o cavalo, um auxiliar-lateral e um mediador. Para ser considerado equoterapia, é preciso ter fisioterapeuta, psicólogo e equitador.
Cada profissional tem uma função. O mediador é quem vai auxiliar naquela sessão o paciente a executar os exercícios propostos no plano terapêutico ou educacional daquele momento. Os profissionais que podem atuar nessa área são, fisioterapeutas, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos ou aqueles que tenham uma formação e atuem na área da cognição motora, comportamental e emocional. “A terapia é composta por um trabalho em equipe, o auxiliar lateral e o mediador podem variar muito em cada sessão, em um dia o auxiliar pode ser o fisioterapeuta e o mediador pode ser o psicólogo, já na outra sessão as colocações podem se inverter. Tudo depende do que o paciente necessita na sessão daquele dia”, comenta a psicóloga Tatieli de Fátima Oliveira, que faz parte da equipe de equoterapia da APAE Rural de Guarapuava.
A terapia utiliza muito da relação homem e cavalo. Thiago Barbosa, enfermeiro e equitador da equipe de Equoterapia da APAE Rural, reforça a importância de um primeiro contato com o animal antes do processo terapêutico. “É preciso uma aproximação, para que o paciente se sinta mais confiante. Além disso, tem que ter um cuidado e treinamento da equipe para as sessões, pois o animal pode se assustar com ruídos ou até mesmo com o toque do paciente. Ou o paciente pode se assustar com o animal e por isso é preciso equipamentos e um treinamento especializado para saber como reagir nessas situações”, completa Thiago.
Para quem é indicado?
A equoterapia é indicada para pessoas que possuem deficiências físicas, neurológicas ou necessidades especiais, como:
- Síndrome de Down;
- Transtorno do espectro autista
- Paralisia cerebral
- Distrofia muscular
- Derrame cerebral (AVC)
- Artrite
- Esclerose múltipla
- Hiperatividade
- Lesão na medula espinhal
- Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- Estresse pós-traumático
- Transtorno bipolar
- Depressão
- Ansiedade
Além disso, pode ser recomendada no acompanhamento e tratamento de traumas, doenças mentais, doenças genéticas, comprometimentos emocionais, deficiência visual, deficiência auditiva, problemas escolares, como, distúrbio de atenção, percepção, fala, linguagem, hiperatividade, e também com pessoas que tenham problemas de posturas, insônia ou estresse.
A equoterapia só tem início após uma avaliação clínica. É preciso ter mais de um ano de idade. Em casos de portadores de síndrome de Down, é preciso ter mais de três anos, pois somente depois dessa idade que o paciente passa a ter estabilidade cervical. Existem também algumas contraindicações, como:
- Cardiopatias agudas
- Pacientes com epilepsia não controlada
- Instabilidade aguda na coluna
- Lassidão nas vertebrais cervicais
- Problemas graves na coluna cervical
- Alto grau de escoliose
- Problemas nos ombros e quadris
- Contusões
- Instabilidade comportamental que implique riscos ao praticante
Leônidas Pires é pai de Pedro, um dos pacientes da equoterapia da APAE Rural de Guarapuava. Pedro tem 13 anos e já faz a terapia há seis anos. O menino tem Síndrome de Down e por isso só iniciou o tratamento após os três anos. O pai comenta que a terapia não é só andar a cavalo. “Nós moramos em um sítio e temos cavalos por lá também, mas o que o Pedro aprende e faz aqui, não é a mesma coisa que ele faz lá em casa. O meu filho evoluiu muito, ele não conversava nada com a gente e não gostava de obedecer a ninguém. Agora, ele sabe os dias que tem equo e fica muito empolgado para ir, falar que ele não vai poder ir é motivo de choro lá em casa. Ele não faz isso em outros lugares, é só porque aqui está fazendo um tratamento que nem percebe que realmente é uma terapia”, conta o pai.
O fisioterapeuta Luiz Zbuinovicz, que também atende Pedro, explica porque o cavalo passa a ser um agente facilitador dessa terapia. “A equoterapia emprega o cavalo como agente promotor de ganhos, em um nível físico e psíquico. Além disso, o cavalo tem uma caminhada parecida com o dos humanos. Nós chamamos de movimento tridimensional. A pessoa, na sessão, nem sente o movimento que está fazendo, acaba se distraindo por estar montada no cavalo e realizando outros exercícios. A equo utiliza exercícios que a gente não consegue fazer em uma clínica de fisioterapia, não temos nem aparelhos que cheguem perto de fazer ou imitar o que o cavalo faz com os pacientes”, explica Zbuinovicz.
Como ter acesso?
A equoterapia passou a ser ofertada pelo SUS em 2019. A Lei 3446/19 obriga o Sistema Único de Saúde a oferecer o tratamento terapêutico, quando houver prescrição médica. A prescrição deve seguir protocolos e diretrizes do Ministério da Saúde.
No município de Guarapuava as pessoas podem ter acesso por duas formas: pelo SUS, em que a terapia acontece na APAE Rural da cidade, ou pessoas que tenham deficiências intelectuais e que já fazem parte da APAE. Além disso existe também a Equo Amor, uma instituição privada do município.
Texto: Emely Cardoso
Edição: Maria Isabela Andrade