15 Minutos

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Antonia Adriana Alves Bessa – de Encanto, Rio Grande do Norte – foi apedrejada e espancada pelo ex-marido, o cadáver deixado na rua aos olhos dos vizinhos e das testemunhas. Coberta por hematomas e fraturas, o traumatismo de sua morte, a mulher havia sido vítima de ameaças pelo futuro assassino, como relatado pelo filho. Ainda assim, nada o impediu de, publicamente, executá-la. Apenas quinze minutos depois – segundo as estatísticas dos dados da Fundação Perseu de Abreu – uma outra mulher, mesmo que ainda não noticiada, sofreria a mesma consequência.

 

Esse é o tempo necessário para que nossa sociedade assassine uma nova mulher: uma mãe, uma esposa, uma filha ou uma amiga. A ineficiência das leis que deveriam assegurar a integridade física e psicológica do gênero criou – por consequência – um cenário propício à impunidade desses criminosos. Agressores por vezes nem mesmo denunciados, ignorados pelo sistema que aflige vítimas de que seu suplício ecoe no vácuo e na ignorância.

 

É evidente na constituição, leis e emendas que prometem zelar pelos interesses da mulher. Porém, esse progresso não representa recurso suficiente próximo da apologia à violência e ao desrespeito presente na vida brasileira, do cotidiano às artes. Presente nas peças de Nelson Rodrigues às músicas –  “(…) me contaram que você bateu na minha nêga. Isso não é direito. Bater numa mulher. Que não é sua”, de Moreira da Silva – o abuso à mulher foi por anos banalizado. Sempre intrínseco à cultura brasileira, implicando a agressão e o estupro na relação homem mulher como um traço tão característico, quanto afeto ou respeito.

 

Obstante, parabenizar-se pelas conquistas jurídicas recentes pouco faz pela segurança da mulher; longe disso, ao passo que o país parece mais preparado para lidar com tais situações, mais as vítimas acabam desiludidas e desconfiadas de todo sistema punitivo. Medidas protetivas – ordem de afastamento – não são respeitadas por antigos agressores. As autoridades mais atuam com indiferença e de maneira punitiva – não agindo de forma preventiva – e socialmente o Brasil está longe de se desvencilhar da cultura do estupro e da violência.

 

Texto: Daniel S. Simon

Edição: Maria Isabela Andrade

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