Onde não se alcança, não se faz sentir

Há um lugar, em meio ao vazio, para onde eu sempre vou quando as coisas ficam reais demais. Coloco meus fones, aumento o volume da música, me perco nela e alcanço o desassociar. Não sei descrever com o que ele se parece, apenas sei que passo mais tempo lá do que na realidade. E eu tenho a certeza de que eu não sou o único que vai para lá.

 

Somos muitos os que preferem se esconder do que enfrentar os perigos da realidade. O perigo de um coração partido, o perigo da dor e da perda, o perigo da derrota ou do simples fato de que as coisas não dão certo. Não vamos tentar negar a dureza da vida. Não venha negar a dificuldade em levantar da sua cama, da dificuldade de ter dinheiro para fazer algo só para você ou da dificuldade em ser sincero sobre algo, sabendo que os outros podem não te levar a sério.

 

Viver no pessimismo é medíocre, no entanto viver num conto-de-fadas é mais ainda. Para alguns, a vida é uma linda jornada com pausas para a tristeza. Eu, por outro lado, acredito que o mundo seja um lugar ruim que, às vezes, oferece bons momentos. O problema, em ambas as perspectivas, é saber que alguma hora a tristeza vai voltar.

 

Acabamos por evitar sentir qualquer coisa tentando não sermos decepcionados de novo. Não só no amor, nós também nos fechamos para novas amizades por conta de antigas experiências. Assim como nos fechamos para qualquer emoção que arrisque expor o mínimo de nós mesmos, pois estar sujeito a ser julgado por ser quem somos pode ser assustador. Quando envelhecemos, já não temos mais força para continuar e pouco amor a oferecer.

 

Por mais difícil de aceitar que seja, a vida é uma amálgama de sentimentos bagunçados. Queria definir essa complexidade em palavras, mas não há como. A melancolia, a paixão, a perda, o desejo e a incerteza são todos elementos que constroem a verdadeira experiência de se estar vivo. Claro que muitas vezes parece estúpido, porque é mesmo. É estúpido sentir algo bom quando estamos rodeados de tragédia, porém não devemos deixar isso nos impedir de nos sentirmos estúpidos. Viver na minha cabeça é confortante, mas no fim é da bagunça que precisamos.

 

Texto: Luis Emanuel Fontana Calixto

Edição: Maria Isabela Andrade

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