O apelo do povo por um restaurante popular em Guarapuava

O apelo do povo por um restaurante popular em Guarapuava

A preocupante taxa de insegurança alimentar em uma cidade com quase 200 mil habitantes

 

Quando o povo guarapuavano vai, finalmente, ter uma alimentação digna e de qualidade garantida pelo Restaurante Popular? Comer de forma digna e qualitativa é uma garantia das diretrizes desse programa, então por que não se vê algo tão benéfico sendo estabelecido no município?

Essa instituição é mostrada como essencial no combate à insegurança alimentar ao redor do Brasil. Mas, mesmo que tenha sido prometida diversas vezes, nunca foi estabelecida na cidade de Guarapuava.

Terezinha de Fátima trabalha distribuindo panfletos. Devido à rotina dinâmica de alguém que não tem um local de trabalho fixo, Terezinha sempre passa o horário de almoço no centro da cidade. “Eu não consigo comer todo dia aqui, nesses restaurantes bons. É caro demais para mim, fora da minha realidade. Como é que eu faço as compras do mercado, almoço fora todo dia e ainda sobra dinheiro? Não tem como”, comentou Terezinha.

Conforme a panfleteira, a refeição mais barata no centro da cidade é apimentada e salgada demais para ela, que tem pressão alta e diabetes. Apesar de Terezinha tentar cuidar da saúde, isso se torna muitas vezes impraticável devido à sua condição econômica.

 

“Eu me viro com pastéis, coxinhas… às vezes, quando eu estou com muita fome, eu compro um prato de comida, mas evito muito. Se fosse para eu comer todos os dias uma refeição saudável, eu iria gastar mais do que ganho, e daí não dá, né?”

 

O cidadão que não tem a possibilidade de ter todas as refeições feitas em casa, como Terezinha, é um dos diversos grupos que necessitam do suporte que um Restaurante Popular poderia dar. Almoçar todos os dias em restaurantes privados sai muito caro para grande parte dos assalariados. Esse problema, e todos os outros que são gerados por uma alimentação de baixa qualidade ou até mesmo inexistente, seriam amenizados com a implantação do programa.

 

Plano de Governo

O atual prefeito de Guarapuava, Celso Góes, tem no plano de governo como uma das promessas a implantação do programa Restaurante Popular na cidade. Segundo o documento oficial, a prefeitura iria seguir um modelo já praticado no município de Toledo, também no Paraná, que conta com 7 restaurantes do tipo. Passaram-se quase dois anos desde o início da gestão atual, e até agora, nada.

Em 2017, Itacir Vezzaro, vice-prefeito da época e atual secretário de Agricultura, viajou até Toledo, mas o tempo passou e os planos não foram para frente. A viagem comprova que o projeto transcendeu gestões, porém nunca saiu do papel.

Há alguns anos o programa está guardado dentro das gavetas da prefeitura, junto a ele se encontram a garantia de melhores condições de saúde, maior segurança econômica e a possível diminuição nos índices de insegurança alimentar dos guarapuavanos.

No plano de governo, o projeto também prevê a perspectiva de alavancar a economia regional. A prefeitura se comprometeria em abastecer o Restaurante Popular de produtos de pequenos produtores do município. Segundo Jairo Nack, que trabalha com agricultura orgânica e familiar em Guarapuava, ter um comprador fixo seria importante para a população rural que sobrevive da venda de produtos. “No período escolar, durante as  férias, ficamos sem ter para quem fornecer. No caso do restaurante, seria uma demanda contínua”, comentou Jairo.

 

Os dados são preocupantes

De acordo com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de Guarapuava, a situação é problemática por conta da falta de repasse de verbas e a diminuição da abertura de editais estaduais e federais.

O que a prefeitura pretende fazer para solucionar esse problema é criar, para o início de 2023, um cartão. Ele daria liberdade para as pessoas vulneráveis economicamente de escolher seu alimento, sem se limitar à cesta básica. O plano ainda está sendo elaborado e aperfeiçoado para não haver fraudes. Além disso, não há um valor já estabelecido para esses cartões.

Elenita Lodi, secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, afirmou que não foi descartada a opção de um Restaurante Popular na cidade de Guarapuava. Porém, não seria fácil mantê-lo em funcionamento por conta da dificuldade de subsidiar algo de tamanha complexidade. “A vinda de um Restaurante Popular para o município traria prejuízos, iria enfraquecer os comércios alimentícios que lucram principalmente com os almoços, e não dá para ignorar isso.” explicou a secretária.

A alimentação de uma pessoa afeta diretamente a qualidade de vida dela. Segundo dados do Ministério da Saúde, um a cada quatro brasileiros precisa lidar com os riscos da pressão alta. O diabetes é outra doença que também acomete uma grande parte das pessoas no Brasil, são 14 milhões de vítimas.

De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da cidade de Guarapuava, até fevereiro de 2021 mais de 15 mil pessoas tinham que sobreviver com menos de R$3,00 por dia no município. Esse dado significa que milhares de guarapuavanos estão abaixo da linha da pobreza (de acordo com definição do Banco Mundial, são pessoas com renda inferior a R$9,86 por dia, ou R$140 por mês).

De qualquer forma, não existe uma resposta simples. A única conclusão é que uma quantidade significativa de pessoas necessita de ajuda para fugir da insegurança alimentar em Guarapuava. Algo precisa ser feito para garantir  que  os guarapuavanos tenham acesso ao mínimo.

São 15 mil pessoas que sobrevivem com menos que o necessário, e outras milhares precisam de outras formas de auxílio. O programa Restaurante Popular pode proporcionar para uma sociedade, a qual não chega nem perto de estar em igualdade, uma chance de viver a vida da forma mais digna possível dentro da realidade.

 

Texto: Ana Gabriela Abreu

Edição: Maria Isabela Andrade

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