Orkut, a mais nova febre entre os estudantes!

O site de relacionamento social, Orkut, se transformou em um fenômeno  de popularidade na internet brasileira. Usuários cadastrados através de seu perfil,  expõe sua biografia, manifestam preferência, falam da família, publicam fotos, exibem seus amigos e associam-se a comunidades virtuais. Também interagem com terceiros, que possuem hábitos e interesses comuns, não se dando conta  que devassaram sua privacidade, tornando-se seres humanos de vidro no mundo digital.

A amizade é a porta de entrada do universo do Orkut. Para fazer parte do “clube fechado” mais aberto do mundo. Para entrar, é preciso ser convidado por algum “associado” que se declare seu amigo. 

Contabilizar poucos amigos não está com nada. Bom mesmo é ostentar janelinhas de centenas de agregados, sob o título “my friends”. O site estimula a busca pela popularidade. A primeira informação ao lado do nome da pessoa é o número de “amigos” que ela tem, verdadeiros ou não. Também é bom ter quem se declara seu fã, registre depoimentos camaradas ou marque presença na pontuação gráfica que só prevê símbolos positivos.

Existem comunidades no Orkut que são formadas por grupos de pessoas que dispõem de uma página exclusiva para iniciar tópicos de discussão. Muitas pessoas apenas entram porque acham o nome e a proposta legal, ou porque a comunidade representa um aspecto de sua personalidade. 

São mais de 140 mil, divididas em 28 temas como arte, moda, política, religião, música, comida e esportes. Qualquer um pode  criar as suas ou se ligar a quantas quiser, por mais esquisitas que pareçam. Tem de tudo, de viciados em café a admiradores de genitálias depiladas, de grupos com milhares de pessoas a outros com um único e solitário membro.

 “Faço parte  de várias comunidades que conheci, sempre que posso comento em algumas, foi através de comentários nas comunidades que conheci várias pessoas de outros lugares, até mesmo do Japão”, afirma a acadêmica de Ciências Contábeis, Geysa do Nascimento.

Bisbilhotar é umas das atividades preferidas, já que todo mundo pode conferir a performance de todos. É como ir a uma festa e observar quem conhece quem. Só que no Orkut não é preciso perguntar “quem é aquele, é amigo de quem?”. 

Boa parte está em vasculhar o círculo de amizade alheio, saber quem são os amigos dos seus amigos, ler o que um diz sobre o outro, saber do que gostam e pelo que, ou por quem se interessam. 

“Gosto de entrar na página dos meus amigos para saber o que as pessoas falam sobre eles e também para conhecer melhor meus gostos, isso porque muitas vezes não conheço direito as pessoas que me adicionam”, comenta o estudante Diego de Campos Pillar.

Outro ponto observado pelos orkuteanos de plantão é a falta de privacidade, entre namorados, noivos ou casados. Para os bem-resolvidos, conviver com a cara-metade no Orkut é natural, mas no caso de noivos neuróticos e noivas nervosas, o inferno do ciúme pode estar a poucos cliques do mouse. 

Nem todos reagem bem ao encontrar um(a) ex na lista de amigos do outro ou ler indigestas declarações de carinho assinadas por gente suspeita. 

“Meu namorado acabou lendo alguns recados meio empolgados de amigos com quem já fiquei. Claro que a gente brigou. O Orkut é um prato cheio para ciúmes, é como se a pessoa tivesse acesso ao seu caderninho de telefones”, explica a estudante Simone Salanti.

 

O lado obscuro do Orkut

Se por um lado vários negócios, amizades, relacionamentos e até casamento têm surgido a partir destas redes sociais, por outro,  têm sido cenário para a prática de vários abusos. Isso porque, o provedor de serviço não tem a menor possibilidade técnica de controlar a veracidade do conteúdo que é inserido, editado ou retirado diariamente nas inúmeras comunidades e perfis de usuários. 

Embora o serviço possua uma política de uso e privacidade, na prática, o controle sobre o conteúdo divulgado é insuficiente ante a incidência de alguns ilícitos. 

Prova disso é o caso  de um grupo de jovens de Ribeirão Preto (SP), que tinha o hábito de se reunir num posto de gasolina no centro da cidade. Por isso, o grupo de amigos criou uma comunidade no site do Orkut, com o nome “Posto P1”, para comentar os acontecimentos da turma. 

Em um desses comentários, alguém dos amigos que não se identificam acusa um dos integrantes de ser homosessual. Um comentário que era para se tornar brincadeira, acabou virando em um assassinato com 12 tiros. O crime aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2005 e foi divulgado no programa Linha Direta, da Rede Globo.

 

Dados sobre o Orkut

O Orkut é uma comunidade virtual filiada ao Google, criada em 22 de janeiro de 2004, com o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos. Seu nome é originado pelo projetista chefe, Orkut Buyukkokten, engenheiro do Google. O sistema possui aproximadamente sete milhões de usuários cadastrados. O Brasil é o país com maior número de membros, superando inclusive os EUA. Mais de 72% dos usuários do sistema são brasileiros. Os EUA são o segundo país com o maior número de membros, possuindo uma fatia de aproximadamente 6,7%. 

Para se ter uma ideia, atualmente já existem cerca de 1.500.000 usuários no Brasil, sendo mais do que 50% na faixa de 18 a 25 anos. Nos dois primeiros dias de fevereiro de 2004, 100 mil novos usuários se cadastraram no sistema, um ritmo de crescimento muito grande. O número é ainda mais impressionante se considerar que a inscrição não é aberta a todos os internautas, é preciso ser convidado por alguém que já é membro.

 

Texto: Fernanda Ziegmann, edição mensal Jornal Ágora, setembro de (2005)

Edição: Gabriela Becker, agosto (2022)

 

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