Tortos caminhos futebolísticos

Tortos caminhos futebolísticos

Summary

Casos de corrupção e dirigentes amadores afligem o futebol brasileiro

Em uma partida entre a equipe guarapuavana e Cornélio Procópio, um dirigente do Batel avisou os jogadores no vestiário que poderiam jogar tranquilos, pois o árbitro estava na gaveta”: “No momento que começou o jogo, nada do que ele nos falou aconteceu, foi o contrário. Imagina-se que o árbitro fez acerto com as duas equipes, mas eu acredito que Cornélio Procópio tenha pagado um pouco mais”, relata o ex-jogador Marabá.

Más administrações em clubes e federações, dirigentes que se perpetuam no poder entre outras irregularidades nos bastidores do futebol não são raridades nos noticiários. Escândalos cada vez mais frequentes mancham a imagem do esporte bretão no País pentacampeão do mundo.

Exemplos não faltam e há tempos acontecem. Em sua edição de 22 de outubro de 1982, a revista Placar denunciou “A Máfia da Loteria Esportiva”. Depois de mais de um ano de investigações, a publicação trouxe uma extensa reportagem denunciando o caso de uma manipulação dos resultados de partidas que faziam parte da Loteca No total, a revista denunciou 125 envolvidos, entre jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros e jornalistas. No final do inquérito, ninguém foi preso.

O Campeonato Brasileiro de 2005 ficou manchado pelo “Caso Edilson”- incidente descoberto pela Veja- que culminou com a anulação de onze partidas do Brasileirão apitadas por Edilson Pereira de Carvalho. Ele acertava os resultados das partidas com um grupo de investidores, que se beneficiava com apostas milionárias em sites estrangeiros, “driblando”, assim, a legislação brasileira que proíbe esse tipo de aposta em território nacional. 

Os jogos dirigidos pelo árbitro foram disputados novamente e o título daquele ano ficou com o Corinthians. Além de Edilson e de empresários, o esquema envolveu também outro árbitro, Paulo José Danelon. Depois do episódio, virou mania entre as torcidas gritar “Edilson” quando um juiz tinha um mau desempenho em campo.

Em 2007, um escândalo abalou as estruturas da Federação Paranaense. Nove pessoas foram presas acusadas de usar a FPF para desviar cerca de R$ 5 milhões, entre elas estava o ex-presidente da entidade, Onaireves Nilo Rolim de Moura. O cartola não estava mais à frente da Federação, pois no início do mesmo ano havia sido suspenso por 38 meses devido a infrações ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Mentor da quadrilha, Moura estaria usando uma igreja e uma escolinha de futebol para lavar o dinheiro.

De acordo com o Antonio Carlos Bernardino, presidente da Liga de Futebol de Guarapuava, casos como esse são lamentáveis, mas as punições mostram que os tempos estão mudando. “Eu acho importante que essas irregularidades estão vindo a público. Eu vejo que, nos escândalos recentes do futebol brasileiro, árbitros, dirigentes, equipes e jogadores foram punidos. Hoje, existem mais denúncias e mais punições”, opina.

Bernardino acredita que acontecimentos como o ocorrido na terceira divisão do Brasileirão de 2008 – quando Toledo e Marcílio Dias empataram por 0 a 0 propositalmente, pois o resultado de igualdade classificava as duas equipes – acabam por desmoralizar, acima de tudo, os dirigentes das equipes. “Se um diretor chega hoje no vestiário perante os jogadores dizendo que eles não poderão ganhar o jogo, com que moral esse mesmo diretor vai chegar no jogo seguinte e pedir para a equipe vencer?”, questiona.

A partida entre Toledo e Marcílio Dias foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva e remarcada. O caso rendeu uma suspensão a Rafinha, jogador da equipe paranaense, que sugeriu a combinação de resultados em uma declaração à imprensa. Na reedição do confronto, outro empate, desta vez por 1 a 1.

Episódios como todos esses citados não são exclusividade do Brasil. Escândalos de grandes proporções também acontecem ao redor do mundo. Um dos mais famosos estourou na Itália em 2006 e foi batizado de “CalcioCaos” A punição para os envolvidos foi severa. Além da penalização para árbitros e dirigentes, Juventus, Fiorentina e Lazio foram rebaixados para a segunda divisão e o Milan ficou impedido de disputar competições europeias por um ano. A Juventus perdeu ainda os títulos nacionais conquistados em 2005 e 2006.

Fatos como este provam que a luta contra as irregularidades liga das ao futebol é mundial e não só brasileira. Por aqui, a queda de alguns dirigentes que estavam há décadas no poder já pode ser vista como uma luz no fim do túnel, embora Ricardo Teixeira, presidente da CBF, esteja desde 1989 no cargo.

Leia também: CAD, uma história de amor

 

Por: Matheus Koszalka

Edição: Matheus Koszalka

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *