O ódio que cega

O ódio que cega

Summary

Como o cenário de descrença política leva a uma polarização de lados

 

Atualmente existem 32 partidos políticos no Brasil, dos quais 28 possuem representantes eleitos na câmara dos deputados. Uma das maiores discussões existentes é a insatisfação popular com os políticos, seja de esquerda ou direita.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre preferência partidária indicou que 59% dos entrevistados não preferem nenhum partido, porém a confiança não está ligada a partidos, mas sim a políticos. O líder que se apresenta para defender interesses que julga corretos, defensor de uma ideologia é a cara do seu próprio partido.

O grande número de partidos existentes no Brasil é base de uma discussão sobre a necessidade do multipartidarismo, esse é o sistema que predomina no país atualmente, no qual vários partidos podem lutar pelo poder. Isso se deve ao fato de que em muitas eleições vários partidos se unem e apoiam apenas um candidato representante, processo chamado de coligação.

Nas eleições presidenciais de 2014, onze candidatos concorreram à presidência da república, mas apenas três tiveram grande representatividade. Os partidos que não possuíam um candidato direto da mesma forma estavam apoiando alguém, destinando alguns de seus benefícios obrigatórios ao candidato, como o caso do horário de propaganda eleitoral. Em decisão tomada pela câmara dos deputados em 2017, houve a proibição da realização de coligações nas eleições de 2020.

Esses grupos partidários acabam por apoiar representantes que tenham relação com os códigos do partido e seus interesses, lançando a candidatura do político mais expressivo socialmente, gerando uma repetição dos nomes daqueles candidatos que todos já sabem que concorrerão, como é o caso de Marina Silva. A pré-candidata pela Rede Sustentabilidade disputou a corrida presidencial em 2010, 2014 e anunciou a pré-candidatura para 2018, é um nome conhecido, mas que possui poucas chances em pesquisas e eleições passadas. Contrariando essa imagem  existem aqueles que tornaram-se líderes a partir de ideais como o ex-presidente Lula, que desde que ingressou na carreira política foi um líder carismático, ganhou a confiança de seus seguidores. Independente do partido Lula é a sua própria legenda.

Nessa linha de líderes “sem partido” está o deputado Jair Bolsonaro, que mudou para o PSL (Partido Social Liberal) poucos meses antes das eleições já com intenções de ser pré-candidato à presidência da república. Esse fato não diminuiu a sua representatividade, pois sua sustentação acontece a partir de sua própria imagem, muito disseminada em redes sociais.

Nos últimos anos surgiu um novo elemento atuante nas campanhas eleitorais. As redes sociais se tornaram uma arma forte para os candidatos, perfis que não possuem ligação alguma com partidos assumem um posicionamento em favor de um líder e assim discutem e defendem essas ideias, as imagens mais representativas desses líderes são as do ex-presidente Lula e de Jair Bolsonaro. 

Páginas, capas, perfis, grupos e movimentos a favor do “mito”, “messias”, “lula livre” e “é golpe”, são muito citados. O período eleitoral com seus dias específicos acabou, agora a eleição começa bem antes, basta um post em favor de um candidato ou lei para surgirem vários comentários tanto de apoio como contrários, anonimato proporcionado pelas redes sociais cria uma coragem para as pessoas falarem o que desejam.

De acordo com o professor de filosofia da Unicentro, Cláudio César Andrade, “As redes sociais não são democráticas, elas são impositivas”, o anonimato permite a expressão de uma opinião radical, que em sua maioria não seriam defendidas fora da internet. Discussões que nem sempre se baseiam em argumentos reais dos candidatos, mas sim de um achismo fomentado pelo ódio, personalidades expressivas como Lula e Bolsonaro radicalizam opiniões, que se tornam apenas duas vertentes distintas da verdade, sem uma ligação, as pessoas se esquecem de que são políticos e defendem ideias que não absolutas e os transformam em ídolos.

O filósofo aborda o caos político que estamos vivendo, as pessoas clamam por uma solução, e essa fé é depositada nessas personalidades, elas se apresentam como defensores de um lado, suas propostas e discursos se tornam um alento, a esperança de alguém que não mais irá unificar, mas sim alterar, impor o que acredita como lei absoluta do certo. Essas opiniões, divergentes, se tornam armadilhas, passam a ser caracterizado, um cenário apenas de opostos, direcionando posicionamentos rasos, que não possuem conhecimento político da causa, apenas acreditam e aceitam tudo que é propagado por esse personagem e reprimem tudo que é oposto a ele, sem uma reflexão de bom ou ruim, apenas de lados contrários. 

Com a proximidade das eleições presidenciais, o desejo de mudança está mais presente que nunca, é necessário escolher alguém em quem confiar, é nesse contexto de desesperança e necessidade que surgem os eleitores fãs. Eles têm camisetas do candidato, formam grupos que saem fazer campanhas por conta própria e recrutam mais apoiadores, colam adesivos em carros, espalham outdoors pela cidade, é a campanha fora de época.

 O principal problema nesse contexto é muitas vezes a falta de informação, apoiar algo porque acha que necessita ou por influência de um amigo e repercussão, se torna uma arma para as más escolhas, e a extremização. É necessário estar aberto a diálogos com ideias que não condizem com o que se acredita, ir além do que o candidato diz e pesquisar suas escolhas, não existem apenas os lados extremos mostrados pelos ódios.

 

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Papo de Mulher

Texto: Elminda Chaves 

Edição: Bárbara Lopes (2022)

 

 

 

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