Entre Rios: encontro de águas e povos
A arquitetura no Brasil, assim como a cultura, a gastronomia e outras características que marcam identidade, recebeu a influência de vários países. Tudo começou em 1500, quando Pedro Álvares Cabral chegou e já havia pessoas morando nesse “novo mundo”. Afinal, não era um lugar deserto, pelo contrário, povos indígenas já habitavam terras tupiniquins.
À medida que os portugueses chegavam ao Brasil, aplicavam seus estilos de vida, incluindo a arquitetura (construções). Contudo, mesmo que os estrangeiros quisessem construir novas edificações, seguindo técnicas europeias, eles não conseguiram, porque a disponibilidade de materiais e a mão de obra era outra.
Ao longo do tempo, a arte desenvolvida nessa colônia portuguesa acabou apresentando suas próprias particularidades. Além da influência dos povos indígenas e dos colonizadores europeus, a arquitetura também recebeu a contribuição da cultura africana. Essa fusão de conhecimentos de diferentes tradições foi levada a todos os cantos do território através dos bandeirantes.
Colonização do Paraná
No período pré-colonial, século XVI, a região do Paraná ficou esquecida por Portugal e foi explorada por colonizadores que buscavam especialmente madeira de lei. Com a ligação rodoviária e ferroviária entre o planalto e o litoral, foi a extensa floresta de araucária angustifólia, existente nos planaltos paranaenses, que permitiu a exploração da madeira como uma atividade econômica.
O desenvolvimento da arquitetura e urbanismo paranaenses veio a partir do século XVII, com o impulso das capitanias hereditárias. Na época, era comum construções de estruturas em taipa de pilão e de pau-a-pique. Mais tarde, com a influência cada vez maior dos estrangeiros, foram adotadas também as alvenarias de pedra e de tijolos de adobe.
Foi a partir de 1850, quando o Paraná deixou de ser província de São Paulo, que o governo local iniciou uma campanha para atrair novos imigrantes. Entre os anos de 1853 a 1886, o estado recebeu cerca de vinte mil. Foram 28 etnias que colonizaram o estado, sendo alemães, poloneses, ucranianos, italianos, japoneses, árabes, espanhóis, portugueses e holandeses.
A colonização maciça aumentou depois da proibição do tráfico de escravos, o que aumentou a procura de mão-de-obra para trabalhar nas fazendas de café, principalmente no norte do estado.
Primeiros anos: o início de Entre Rios
Para entender um pouco mais da história dos imigrantes suábios na região de Guarapuava, Clarissa Wetzel, historiadora e assistente histórica na Fundação Cultural Suábio-Brasileira, afirma que é importante pontuar que este grupo de imigrantes do sudeste europeu, o que hoje seria a Sérvia, Croácia e Romênia, manteve a cultura e a língua alemã enquanto acontecia a 2ª Guerra Mundial.
“Refugiadas na Áustria já há sete anos, famílias de agricultores suábios se inscreveram no projeto de migração para o Brasil, idealizado pelo engenheiro agrônomo Michael Moor e financiado pela Ajuda Suíça na Europa.’’
Este projeto consentia a 500 famílias de agricultores passagens, terrenos, sementes e animais para reconstruírem suas vidas no Brasil, porém com algumas condições.
Uma delas era a de filiarem-se à uma recém formada Cooperativa Agrária, que deveria ser construída especificamente para organizar esta comunidade agrícola. Sendo assim, a base do trabalho no primeiro ano seria comunitário. Todos deveriam trabalhar para todos. Além, de devolverem todo o investimento feito (passagens, terreno, semente, etc.) para a Ajuda Suíça, em até seis anos.
Construindo um (re)começo
Ao chegarem em Guarapuava, as famílias depararam-se com matas de araucárias, tendo que abrir estradas (tanto homens, quanto mulheres) para construir suas moradias, sobretudo, para traçar a arquitetura residencial urbana da Colônia.
A arquitetura das casas era muito simples, As edificações eram feitas de madeira e nunca construídas diretamente no chão, ficando elevadas, com imbuia para a base e araucária para as paredes. ‘’Cada casa tinha oito por cinco metros e meio, mas para algumas famílias, que eram maiores, a casa era de doze por cinco metros e meio”, afirma Clarissa.
Nas edificações havia uma janela que dava para o próprio terreno, em cima da varanda, ao lado da única porta de entrada. Também continham outras duas janelas que davam para a rua.
Com o passar do tempo, a varanda logo foi acrescentada pelas famílias, para aumentar o espaço da construção. “O telhado era íngreme e sem tesouras, típico europeu, formava um sótão que fazia as vezes de um celeiro. Sua inclinação também era comum na Europa contra a neve, o que veio a ser útil em alguns anos aqui em Entre Rios. No início, houve uma tentativa de fazer as telhas com cascas de árvore (schindel), mas logo essa ideia foi abandonada e as telhas de barro passaram a vir de olarias em Irati’’, conclui Clarissa.
Museu de Entre Rios
A história de Entre Rios e seus primeiros anos, assim como os registros históricos das colônias (Jordãozinho, Vitória, Samambaia, Cachoeira e Socorro), estão preservados no Museu Fundação Cultural Suábio Brasileira, localizado na Avenida Michael Moor, 1951 – Colônia Vitória, Entre Rios.
O museu realiza visitas mediadas, todas gratuitamente, para grupos. Para isso, é necessário fazer agendamento prévio pelo telefone (42) 3625 8326. Outras informações sobre o museu é só entrar em contato com o site da Fundação.
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Texto: Gabriela Becker para a revista contorno (2021)
Edição: Gabriela Becker (2022)
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