Você já pensou em mudar o cardápio de segunda-feira?

Você já pensou em mudar o cardápio de segunda-feira?

Summary

Entenda como diminuir o consumo de carne ajuda na sua saúde e no meio ambiente

A “segunda sem carne” é uma campanha lançada em 2009 por Paul McCartney que alcançou diversos países. O Brasil é considerado o com maior adesão em todo o mundo. Figuras públicas, empresas e até mesmo governos apoiam a causa, que funciona da seguinte forma: passar a segunda-feira sem ingerir carne de origem animal.
A ideia foi trazida para o país pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) como vegetariana estrita, sem nada de origem animal, e ganhou forças com o projeto Alimentação Escolar Vegana no município de São Paulo.
Agora, falando de impactos positivos da retirada da carne do prato uma vez por semana, vem a questão da saúde das pessoas. “Uma alimentação centrada em vegetais favorece a prevenção de doenças crônicas e degenerativas, tais como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer, como o do intestino grosso”, disse a SVB em nota.

Paul McCartney segurando placa com a escrita: “Meat free monday”, ou para o português, segunda livre de carne.

 

Saúde sem carne

O nutricionista Orence Couthon complementa a explicação. “Excluir a carne uma vez por semana (ou definitivamente) não traz problemas à saúde. O que pode causar problemas é o planejamento inadequado, caso a pessoa opte por seguir uma dieta sem carne”.
Sobre a proteína e sua ingestão, Orence ressalta que há questões e mitos envolvidos. “É importante lembrar que a proteína exerce muitas funções (processo de cicatrização, proteção, transporte de oxigênio…) no nosso organismo. Então sim, é preciso ter nas refeições, mas não quer dizer em todas. Até porque, o excesso é prejudicial para a saúde”.
“Eu acredito que toda redução de carne pode trazer algo significativo, considerando que a pessoa não ‘recompense’ essa carne durante a semana”, comentou Isabelle Marinho, que é adepta ao vegetarianismo.
A campanha segunda sem carne também é válida na infância (a partir do sexto mês) e na terceira idade, desde que haja uma alimentação equilibrada, segundo Couthon.

Consumo de carne e o meio ambiente

Outro fator importante na campanha é repensar sobre o consumo excessivo de carne. Trocar a proteína animal pela vegetal somente em um dia da semana não trará rígidas alterações em nosso dia a dia. No entanto, terá diferença positiva também para o meio ambiente.
“Devemos pensar também como a agropecuária e agricultura convencional tem influência nesses impactos negativos. Acho que devemos dar mais atenção ao produtor familiar e, sobretudo, na produção de orgânicos, que possuem um processo totalmente diferente do modo tradicional e muito mais saudável ao nosso corpo e ao nosso meio ambiente”, complementa a estudante Isabelle.

A produção de carne extensiva tem um efeito muito negativo para o planeta, dentre eles estão:

Desmatamento: de acordo com a Organização das Nações Unidas, mais de 80% da área desmatada no Brasil está ligada à criação de pastos para gado. O Brasil tem o maior comércio de gado do mundo, portanto a área de campo necessária para pasto corresponde a um quarto do país, que antes de ser desmatado, acomodava muita fauna e flora. Uma consequência desta ação é o aumento de 4°C nessas regiões. As terras para a pecuária mais as terras agrícolas destinadas à produção de ração, ocupam três quartos de terras do planeta, porém só são responsáveis por 12% da caloria consumida no mundo. De acordo com a Universidade de Oxford, a ocupação dessas terras voltadas para essa finalidade é responsável por 60% da emissão de gases no efeito estufa.

Você sabia que para produzir 260 hambúrgueres é necessário desmatar uma área da floresta tropical do tamanho de um campo de futebol?

Desperdício de alimentos: segundo o pesquisador e biólogo Sérgio Greif, não existe uma carência na produção de alimentos porque são produzidas 1,5 quatrilhões de calorias a mais do que seria necessário para sustentar a população. Portanto, o consumo de carne é um desaproveitamento de energia, já que os animais precisam ser alimentados com uma enorme quantidade de matéria vegetal, porém é transformado muito pouco da energia inicial em carne para ser aproveitada pelos humanos.

Aquecimento global: um relatório publicado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) mostra a pecuária global como o maior contribuinte dos gases-estufa, tendo 18% da emissão total de CO2, o que supera todos os meios de transportes. A liberação destes gases acontece devido ao processo que ocorre no estômago de ruminantes. O óxido nitroso é outro gás-estufa liberado pela excreção bovina, sendo este o mais prejudicial, pois sua agressividade é muito maior.

Uso da água em excesso: cerca de 70% de água doce disponível no planeta é utilizada para atividades agrícolas, e grande parte vai para a pecuária, pois só para consumo do gado bovino se vão 50 litros de água por dia e o processo de abate desses animais necessita de mais de 1200 litros de uma só vez.
Existe um termo chamado “pegada hídrica” para entender melhor a quantidade de água usada para este fim. Imagine um sanduíche, nele tem o pão, alface, molho e uma carne, esta carne vem de um boi que estava em um campo e utilizou a soja que para o processamento necessitou de água; o pão veio do trigo que também foi processado em uma indústria e utilizou bastante água; além do consumo de água pelo boi, e assim por diante. O pesquisador Danilton Flumignan explica que quanto mais processado é o alimento, maior é sua “pegada hídrica”.

Extinção de animais: devido ao desmatamento para abrir campos de pasto, muitas espécies são removidas do seu habitat natural, gerando uma perda da biodiversidade e consequentemente sua extinção. Outro problema neste cenário é que muitos fazendeiros eliminam espécies, por preocupar-se com uma possível competição animal ao entrarem em território do gado.

Incentivo e divulgação da campanha

Estimular a redução do consumo de carne é possível através da educação, como diz a assessoria da SVB de Guarapuava:
“Ensinar sobre os benefícios e a orientação nutricional são fundamentais para esse primeiro passo”.
Isabelle também concorda. Para ela, a melhor forma seria a divulgação da campanha, e claro, a prática dela. “Divulgação pelos meios de comunicação, explicando seu objetivo e mostrando o quanto de recursos naturais também são salvos ao diminuir a carne. Na prática, acredito que nas escolas, estabelecimentos ou nos restaurantes universitários que tem um cardápio semanal, seria uma boa alternativa a implantação de alimentos sem carne durante a segunda, explicando aos alunos e clientes o porquê desse cardápio”.
Além disso, uma boa forma de “encorajar” as pessoas a tirarem a carne na segunda-feira é compartilhando boas formas de substituir a carne nas receitas, como a dica da SVB. “Combinando feijões aos cereais, eles oferecem uma fonte suficiente e segura de proteínas, fibras, vitaminas e minerais”.
Um bom conselho de Isabelle é tentar começar com a “segunda sem carne” aos poucos. “Precisamos pensar que nem todo mundo tem o hábito ou tempo de mudar seu cardápio bruscamente. Então, começando a tirar aos poucos, pode ser uma alternativa para conhecer novos pratos”, ressaltou a jovem.
Antes de começar qualquer alteração alimentar, é importante lembrar que se deve consultar um nutricionista. O profissional fará um planejamento de alimentação sem a proteína animal adequada, ou até mesmo realizar alguns exames para ter certeza de que terá uma alimentação saudável.

 

Texto: Anelize Pina Marques para Jornal Porta Voz – Dezembro de 2020

Editado por: Anelize Pina Marques – 2022

 

Clique aqui para fazer um teste do seu paladar! 

Leia mais:

Dá um bom caldo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *