Até as últimas gotas?
Summary
Crise hídrica: entenda quais as causas da severa crise enfrentada em 2020 e 2021 e o que se pode fazer para mudar esse cenário
Em maio de 2021, o governo federal emitiu pela primeira vez um alerta de risco hídrico. Segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) o sistema Cantareira não atinge o nível ideal de abastecimento desde maio de 2020, onde teve 26%, sendo o ideal um volume de pelo menos 60%. Ele é um dos maiores sistemas do mundo, sendo utilizado para abastecer aproximadamente 7 milhões de habitantes. Atualmente o estado de São Paulo, por exemplo, tem 20% a menos de água do que há 8 anos atrás.
Quando há indisponibilidade de água, a sociedade é diretamente afetada com o aumento do custo de alimentos, de fornecimento de energia elétrica, capacidade de produção industrial e na distribuição em locais mais precários. Essas consequências já são comentadas diariamente, mas as causas são mais complicadas para se compreender pois são várias. Esse fator é muito importante de ser ressaltado:
São diversos acontecimentos que provocam a crise, não apenas um de modo isolado.
Pesquisas feitas pelos professores de engenharia da Unicentro apontam algumas das causas desse problema. Primeiro, vale observar o crescimento populacional que aumenta consequentemente a demanda de água.
Nos últimos 30 anos, o consumo quase quadruplicou no país, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA). Por pesquisas do Instituto Trata Brasil, é possível dizer que essa demanda pode crescer 43,5% em 2040, ou seja, seriam necessários 4,4 Sistemas Cantareiras cheios para suprir essa demanda adicional.
Janette Beber, umas das contribuintes da análise, afirma que em 2021 houve o fenómeno La Niña, que é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, junto a intensificação dos ventos alísios. Ele é o responsável por secas e invernos rigorosos no Brasil, fazendo com que as chuvas na região Sul e Sudeste diminuam. Esse evento deve durar até 2022, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
Outro fator são as práticas agrícolas inadequadas, que deterioram a qualidade da água e lançam diversos efluentes domésticos e industriais que a poluem. Ocorrem também as mudanças climáticas globais, que afetam o regime de chuvas e provoca secas ou índices de precipitação acima do normal.
Relação com a Floresta
O responsável pelas chuvas que chegam no centro-oeste, sudeste e sul do país são os rios voadores da Floresta Amazônica. Por isso, ao desmatar ou queimar essas áreas, a precipitação diminuiu.
Ainda que alguns especialistas afirmem que o aumento do desmatamento e das queimadas no território nacional tem influência com a crise hídrica devido a diminuição da chuva, a engenharia defende que não está necessariamente relacionada, por mais que as florestas proporcionem a regulação climática e produção de água de boa qualidade.
Como contribuir?
O dia 22 de março é o Dia Mundial da Água. Nesta data, em 1992. foi publicado pela ONU a “Declaração Universal dos Direitos da Água” para uma visão clara e responsável a respeito desse bem essencial para a vida:
“Art. 1° A água faz parte do patrimônio
do planeta. Cada continente, cada povo,
cada nação, cada região, cada cidade,
cada cidadão é plenamente
responsável aos olhos de todos”
“Art. 7° A água não deve ser desperdiçada,
nem poluída, nem envenenada.
De maneira geral, sua utilização deve ser feita
com consciência e discernimento para que
não se chegue a uma situação
de esgotamento ou de deterioração da
qualidade das reservas atualmente disponíveis.”
O que pode ser feito é conscientizar a população sobre o consumo de água sustentável por meio da educação ambiental. Mas existem também leis de proteção e há uma legislação para esse controle da utilização da água: a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997). Nessa lei, é dito que em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos é para o consumo humano e dessedentação de animais. O papel dessa política nacional é assegurar a disponibilidade de água em qualidade para futuras gerações e fazer o uso racional do recurso.
Além disso, foi promulgada recentemente a Lei 14.119/2021, que instituiu a política nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Ela recompensa quem provê esses serviços e nos próximos anos, essa prática pode contribuir com a proteção dos recursos hídricos. A Doutora em Hidráulica e Saneamento, Janette Beber, afirma que as leis ambientais brasileiras são boas. “Estamos nos mesmo patamares internacionais em termos de leis ambientais”.
Mas segundo ela, o problema reside, fundamentalmente, nos mecanismos de cobrança das leis e na fiscalização que se faz necessária para a consolidação da legislação na prática.
Texto: Giovanna Bettini para Jornal Opine – Abril de 2022
Editado por: Anelize Pina Marques
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