País mais transfóbico do mundo bate recorde de candidaturas trans
Summary
Cresce o número de pessoas em candidaturas eletivas lideradas por transgêneros no Brasil em 2020
O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. Mas apesar disso, cada vez mais essa população ganha visibilidade. Isso porque, as mulheres trans vêm ocupando espaços na função pública.
Mais participação política possibilita novas iniciativas para uma governança igualitária e propostas que defendam os direitos da comunidade LGBTQIAP+. E isso acontece principalmente no que se refere a letra T da sigla, que representa a população trans e travesti.
Em 2020, Érica Hilton foi a vereadora mais votada em São Paulo. Foram mais de 50 mil votos. Com a quantidade, se tornou a primeira vereadora trans mais votada no Brasil, bem como a pioneira em coordenar um parlamento, além de presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal paulista.
Ainda no mesmo ano, em Minas Gerais, Duda Salabert bateu recorde de votos na Câmara Municipal de Belo Horizonte, com mais de 37 mil votos. Duda também foi a mulher trans mais votada da história de Minas. No ano de 2018, ela foi a primeira mulher trans a disputar um cargo ao Senado. Ainda que não tenha sido eleita, recebeu mais de 351 mil votos.
ELAS NAS CANDIDATURAS
O retrato da política brasileira sempre foi composto majoritariamente por homens brancos. Minorias em geral não costumam ter espaço nas cadeiras legislativas de todo o país.
Em 2020, no entanto, uma pequena esperança de mudança atingiu as Câmaras Municipais. Foram registradas centenas de candidaturas de pessoas transgêneros, mulheres, negros, indígenas, etc. O cenário, antes dominado pelos homens, começa a ser mais inclusivo e representativo.
Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o processo eleitoral bateu recorde de candidaturas e pessoas trans eleitas. Foram 294 inscrições: 30 candidaturas coletivas, 2 para prefeitura e 1 para vice prefeitura. O total representa um aumento de 226% em relação a 2016, quando tivemos 89 candidaturas. Mais candidaturas significou também mais eleitas, passando de 6 para 34.
LIDERANÇAS TRANS NO BRASIL
Para a secretária de articulação política da ANTRA, Bruna Benevides, o resultado das eleições e o crescimento de pessoas trans eleitas é muito importante.
“Essa forma como as pessoas trans estão se organizando, fruto de uma luta coletiva no Brasil há quase 30 anos, e nada mais justo vermos o aumento na quantidade de pessoas trans que se elegeram para reescrever a história das pessoas trans no Brasil, história essa manchada por sangue e violência, mas que agora reacende o desejo e a intenção de nos vermos enquanto pessoas políticas, resgatando a participação trans no jogo político”.
Patrycia Fiuza é guarapuavana, chefe de família, tem 24 anos e se entendeu como mulher trans aos 14 anos de idade.
“É importante para mim me enxergar em mulheres que estão ocupando cargos políticos, é empoderador”.
A gaúcha Kely Braga, de 24 anos, é militante trans e tem o sonho de disputar as eleições municipais da cidade, já que participa ativamente dos debates sobre os direitos humanos da comunidade LGBTQIAP+. Ela conta que sua adolescência foi muito difícil por falta de representatividade.
“Comecei a me prostituir aos 15 anos de idade por não encontrar minha identidade trans em outros lugares a não ser nas avenidas da cidade” e passei a conhecer a política para poder ocupar esses espaços, iniciando através de coletivos feministas”.
Segundo Keila Simpson, presidente da ANTRA, as mulheres trans que lideram seus grupos políticos e sociais fazem a diferença nas cidades e estados em que atuam. Além de defender as pautas LGBTQIAP+, contribuem para o todo político.
“Nós nos integramos às demandas da cidade como um todo. Não defendemos uma bandeira apenas. A defesa é por uma cidade mais inclusiva, mais plural e por uma cidade mais humanizada para todas as pessoas”.
Por Aline Koslinski e Julia Leão, editado por Erica Souza no Jornal Opine (2021) | Editado por Aline Koslinski para Colmeia (2022)