Independência ou retrocesso?
O Brasil foi liberto de mãos portuguesas há 200 anos. A pedido das províncias brasileiras, por meio de assinaturas, o então príncipe de Portugal decidiu ficar em terras brasileiras, ao invés de retornar ao seu país como pedia seu pai.
Assim, em 9 de janeiro de 1822, o Dia do Fico foi estabelecido com a famosa frase: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”. Alguns meses depois, em 7 de setembro, apoiado por sua esposa Maria Leopoldina, Dom Pedro I declarou a independência do país, em um momento não tão heroico como aprendemos nos primeiros anos de escola ou como foi retratado por Pedro Américo.
Mas Dom Pedro só usufruiu da posição de imperador brasileiro por cerca de nove anos. Abdicou do trono no Brasil para tentar recuperar o português, que foi usurpado por seu irmão, deixando o poder para seu filho de cinco anos.
Apesar do governo autoritário e dos erros que, inevitavelmente, cometeu, é certo que o crédito de ter enfrentado o próprio pai e de tornar o Brasil um país independente é de Dom Pedro I. Enquanto História for uma matéria ensinada em escolas, a memória do primeiro imperador e a sua importância para o país continuarão a ser lembradas.
Entretanto, não há justificativa que convença ser uma ideia viável no momento em que vivemos, social e economicamente, pagar pelo transporte aéreo e disponibilizar militares para homenagear a volta do coração de Dom Pedro ao Brasil depois de tantos anos. Sim, o coração de Pedro de Alcântara está conservado há 187 anos: mergulhado em uma solução de formol, dentro de um cálice revestido de mogno e guardado em um sarcófago da Igreja da Lapa, em Portugal.
Por mais que a ideia de conservar um coração fora do corpo por tanto tempo soe no mínimo estranha, o problema aqui é: como um país que sempre noticia a falta de verba pública para a educação e a saúde, por exemplo, consegue arcar com os tais gastos, que nem sequer foram divulgados? A resposta não é tão difícil, afinal, aparências e comemorações patrióticas sem nenhum sentido importam mais do que tentar resolver o problema da extrema pobreza. Inclusive este é um ano de retrocessos, o coração do imperador volta para solo brasileiro e o Brasil volta para o mapa da fome depois de sete anos.
Texto: Ana Lara Chagas Oliveira
Edição: Maria Isabela Andrade