Financiamento coletivo: a solução para a autopublicação

Financiamento coletivo: a solução para a autopublicação

Summary

O novo mundo dos escritores e editoras independentes exige recursos fora dos meios tradicionais para publicação e edição de conteúdos

Ser escritor (a) é uma tarefa difícil. Não basta sentar e escrever um livro, dedicar-se a ele por meses ou anos. No final de tudo, você ainda precisa correr atrás de uma editora que compre os direitos de publicação. Mas, e se depois de todo o processo da escrita nenhuma grande editora abrir as portas? Aí está a imensa dificuldade em se tornar autor (a) no Brasil. 

O mercado editorial ainda é para poucos. Não existe espaço nas editoras para cada novo autor que surge, restando apenas que esses escritores desistam ou passem a vida toda imprimindo tiragens caríssimas e sem condições financeiras de seguir adiante. 

Ou melhor, restava. Recentemente a solução para este grande problema começou a tomar forma, e, no ano de 2020, ela finalmente se concretizou. As campanhas de crowdfunding, que são os financiamentos coletivos, não são uma novidade. Eles consistem na hospedagem de livros em plataforma digital própria para isso. Depois, o autor estipula uma meta a ser batida para que ele consiga tirar seu sonho do mundo virtual. 

Em um exemplo prático, o orçamento de um livro (incluindo projeto gráfico, revisão, capa, impressão e despesas com distribuição e correio) pode ultrapassar R$5000. Esse valor pode ficar muito alto para alguns autores. E é neste ponto que o financiamento coletivo é uma solução viável e que vem se popularizando nos últimos meses. 

 

Iniciativas podem transformar a realidade

Mesmo assim, lançar uma campanha no mundo digital para arrecadar dinheiro pode ser uma tarefa muito difícil. É ainda mais complicado em meio a crise financeira como a  enfrentada durante os 18 meses de pandemia. 

No entanto, há soluções possíveis. Pense só, e se a arrecadação de fundos oferecesse um retorno a quem está ajudando? 

No projeto do financiamento coletivo, o autor explica todos os custos, planos, projetos e estipula uma quantidade mínima que precisa arrecadar para que o livro seja publicado. E então, é hora de colocar as recompensas para quem ajuda.

 Fazendo as contas, o livro sairia R$40. A primeira recompensa é, com a contribuição desse valor, o livro poderia ser levado para casa. Porém, se a pessoa não possui o dinheiro, mas ainda quer ajudar, o autor pode adicionar outras opções, como marca-páginas, chaveiros, canetas e vários brindes com valores menores e que vão, ainda assim, somar no valor total arrecadado. 

Além das recompensas e metas financeiras, o escritor pode estipular o fim da campanha e a data limite para enviar os produtos para seus apoiadores. A partir disso, a campanha de financiamento coletivo está pronta para ir ao ar e arrecadar leitores, amigos, parentes e desconhecidos que queiram contribuir. 

Além disso, o método é seguro e não acarreta em prejuízos aos autores ou contribuintes, afinal de contas, as plataformas garantem que se a meta não for alcançada, todos os apoiadores receberão o dinheiro de volta integralmente. 

O financiamento coletivo em plataformas digitais pode ser muito útil se o escritor tiver um orçamento mais flexível ou queira fazer um projeto mensal. Muitas plataformas oferecem modalidades de submissão e arrecadação. Em algumas é preciso atingir 100% do valor para dar certo, em outras apenas 10% já é possível alcançar uma primeira meta – tudo vai depender das escolhas da pessoa. 

 

Uma realidade para realizar sonhos

É assim que centenas de escritores brasileiros têm feito seus nomes e realizado seus sonhos. O escritor Bruno Aurélio é um desses exemplos. Estudante de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), tinha o sonho de transformar seu livro de contos, poemas e fotografias em realidade, mas o orçamento para isso era exorbitante. Foi então que, conversando com uma de suas professoras, o jovem decidiu lançar uma ‘Vakinha’, que é um jeito diferente de financiamento coletivo, e que ajudou o autor a realizar seu sonho. 

Histórias Manchadas, livro de Bruno, foi lançado em julho deste ano. A obra é uma união de histórias, protagonizadas por homens que retratam as perspectivas do sentimento humano, Para alegria do autor, o livro já está na mão de leitores, fazendo o sonho do escritor se tornar realidade. 

 

 

Novos mercados

É compreensível ter receio em lançar seu conteúdo em plataformas de financiamento. Em uma campanha virtual, correr atrás dos leitores, dizer a eles que comprem o livro meses antes da produção e ainda ter todas as inseguranças de se tornar um autor independente são alguns dos maiores medos dos jovens escritores. 

Thati Machado é uma escritora independente, que vive exclusivamente da literatura desde 2014. Em meio a uma demanda expressiva do mercado editorial para livros de autores LGBTQIAP+, a autora lançou um selo editorial intitulado Se Liga, no final de 2019. 

Sozinha, construiu, dentro da casa dos pais, o que viria a ser a editora independente Se liga. Quando o namorado perdeu o emprego no começo da pandemia, eles resolveram investir e ampliar o trabalho da editora que soma mais de 40 títulos. 

Nas redes sociais, os seguidores passam de 15 mil. A Se Liga é uma inovação no mercado literário, porque, a partir de um trabalho feito em conjunto, publica livros na mesma dinâmica de financiamentos coletivos.

 A maior parte das publicações atinge a meta muito antes do prazo limite, fazendo com que a editora possa realizar seus objetivos, além é claro, de realizar sonhos. Não somente os da Thati e do Denis, agora parte integrante da equipe da editora, mas também os sonhos de dezenas de autores que já tiveram a oportunidade de publicar por um selo editorial inclusivo e representativo.

Escrever é um ato de coragem e deixar grandes livros engavetados por falta de oportunidade não é mais uma opção. As plataformas digitais estão aqui para abrir portas. Afinal o próximo livro pode ser equivalente a popularidade de Harry Potter. Como saber se não arriscar, não é mesmo? Que tal descobrir se seu livro combina com o financiamento coletivo fazendo um quiz? Clique aqui para tirar essa dúvida. 

Texto: Millena Ricardo para a revista Metaphora, em 2021

Edição  Millena Ricardo, 2022

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