Quer fazer um Origami?

Quer fazer um Origami?

Summary

Arte milenar oriental das dobraduras em papel ainda conquista adeptos e admiradores tempos de rapidez e do universo virtual

A palavra origami vem do japonês e significa, literalmente, dobrar papel (oru = dobrar e kami papel). Portanto, a maioria das pessoas já fez um origami, quem nunca fez um aviãozinho de papel na escola e jogou no coleguinha ao lado? E quem nunca fez um chapéu com jornal para comemorar o dia do soldado? Mas, a beleza geométrica e a técnica precisa que compõem a essência das dobraduras orientais ampliam essa definição simplista.

 

Os origamis são uma arte tradicional milenar do oriente (principalmente do Japão) e sua origem exata é desconhecida. Estudiosos acreditam que o seu surgimento foi consequência da invenção e difusão do papel, outros entendem que eles estão ligados a crenças religiosas de épocas passadas. Mas, o fato é que essa arte se difundiu por todo o planeta ao longo de muitos séculos, sendo transmitida através de gerações, praticamente entre famílias nobres pelo alto custo do papel. Mais tarde, a arte se popularizou por meio de livros, televisão e internet, hoje existe uma série de manuais que ensinam passo a passo como montar origamis dos mais variados estilos.

Não basta ler textos explicativos e didáticos sobre a técnica para criar um origami, é preciso ter o dom da sutileza, da precisão e, principalmente, da paciência. Por isso , é cada vez mais raro encontrar jovens com disposição para essa atividade, jáque quase todos preferem usar o tempo livre para navegar na internet, ver televisão ou jogar vídeo-game. Hoje, em 2022, ainda há outros fatores que nos distraem e nos causam ansiedade, as redes sociais como Twitter, Instagram e TikTok.

É raro, mas não impossível, Priscila Ikeda e Margarida Kaminski são exemplos de jovens que encontraram nos origamis uma fonte de “terapia” e de distração da rotina.

 

Entre gatos e papéis

 

Priscila tem 19 anos e é estudante de medicina veterinária, sua casa é repleta de gatos de verdade e pássaros de papel. O seu primeiro origami foi um tsuru (pássaro), quando tinha cerca de oito anos. “Eu vi o passo a passo em um programa de TV, achei legal e resolvi fazer. Meu pai gravou para mim, então eu olhava, parava, fazia, voltava, até conseguir terminar”. 

Embora possua descendência japonesa, a estudante afirma que isso não foi fator determinante para que começasse a fazer origamis. Segundo ela, a motivação veio pelo encantamento diante das dobraduras que via, além que há outras pessoas na família dela que se dedicam à atividade. “Meu tio faz alguns origamis. Minha tia também. Ela já me deu um livro sobre isso”.

Foi no Ensino Médio que Priscila começou a se dedicar realmente aos origamis, ela passou a se interessar pelos modulares, os chamados kusudamas, que possuem formatos de bola e são mais elaborados. “Eu gostei bastante desses modelos, achei bem complicado de fazer, tanto os pequenos, quanto os maiores, com vários módulos que precisavam ser encaixados. Mas o resultado era bom, valia a pena o esforço”.

A jovem gosta de presentear os familiares e amigos com as dobraduras que faz. São poucos os que ficam guardados na casa dela, mas nunca vendeu nenhum. O trabalho dobraduras mais se orgulha de ter feito foram 40 mini kusuda como lembrancinhas para o casamento da irmã. “Levei uns quatro meses para terminar. Deu trabalho, mas todo mundo adorou. Até hoje as amigas da minha irmã, quando me encontram na rua, perguntam: ‘foi você quem fez os origamis, né? Faz um pra mim!”

Além de kusudamas, Priscila também gosta bastante de fazer tsurus que, de acordo com a cultura japonesa, significam ‘garçasda paz’. Ela conta que há uma superstição no Japão em que as pessoas acreditam que aquele que fizer mil tsurus terá um pedido realizado. 

Essa crença está relacionada à uma história antiga sobre uma menina que estava muito doente e resolveu fazer mil origamis desse tipo, com a esperança de que fosse ficar boa quando terminasse. Porém, ela morreu antes disso. Então, amigos e familiares concluíram a meta da garota. “Eu não sei se já cheguei a mil tsurus, mas devo estar perto! [risos]”.

“É algo que eu faço por prazer, como se fosse uma terapia mesmo. Tenho bastante paciência.” 

 

A estudante não se importa em perder algumas horas do dia para fazer origamis, trocando até a internet pela atividade se for preciso. Ela comenta  ainda que nunca ficou estressada por não conseguir finalizar alguma dobradura. “Teve um origami que eu comecei a fazer quando tinha 16 anos e até hoje não consegui finalizar, mas nunca me estressei. É algo que eu faço por prazer, como se fosse uma terapia mesmo. Tenho bastante paciência”.

“Os kusudamas maiores são os mais demorados porque é preciso medir, cortar o papel, encaixar os módulos. Eu fiz um vermelho de 40 módulos para dar de presente ao meu namorado”.

 

Bolas e mais bolas de papel

 

 

Margarida tem 20 anos e começou a fazer origamis, mais precisamente kusudamas, há três. A motivação veio através de uma amiga, que fez um modelo de Electra (uma espécie de kusudama mais simples) e mostrou para ela, impressionando Margarida. 

Depois de estudar o diagrama de montagem, a estudante de publicidade e propaganda resolveu tentar fazer sozinha. A partir de então a jovem passou a pesquisar sobre esses modelos e descobriu que existe uma enorme variedade, deixando-a encantada. “Para mim eles exercem fascínio. Essa arte, além de milenar, é extremamente interessante, pois existem kusudamas muito peculiares. É preciso muita dedicação e criatividade para criá-los”.

Em um primeiro momento, a intenção de Margarida era apenas provar para si mesma que tinha capacidade de produzir um kusuduma, logo depois isso acabou se tornando um passatempo no dia-a-dia. Ela aprendeu todas as técnicas que conhece na internet, principalmente em blogs que postam diagramas e vídeos. Também possui alguns livros em russo e japonês que contém explicações bem simples de montagem.

Assim como Priscila, Margarida gosta de presentear os amigos com os origamis que produz, até porque na sua casa não há mais espaço para colocar como decoração. No entanto, o dom para as dobraduras de papel já rendeu lucros de verdade para ela, produzindo uma grande quantidade de kusudamas para a decoração em uma festa. “Foi uma experiência muito legal. É uma sensação muito boa quando as pessoas apreciam as coisas que você faz”.

Uma das coisas que mais fascina a futura publicitária em relação aos kusudamas é a história. Segundo ela, esses modelos eram usados no Japão e na China para afastar o mal, como se fossem amuletos, por isso eram colocadas ervas dentro deles. Também eram associados a várias festividades e utilizados como decoração. “Descobri a função de colocar ervas nos kusudamas há pouco tempo, quando estava fazendo um origami inteiro fechado. Achei essas informações em um blog que ensinava como colocar as ervas”. Os kusudamas são origamis construídos a partir de módulos que, quando encaixados, ganham a forma de esfera. Eles podem ter de seis até 60 módulos, dependendo do tamanho. 

Tanto Margarida quanto Priscila não conhecem muitas pessoas que saibam ou se interessem pela arte dos origamis. Na era da virtualidade e do imediatismo é cada vez mais raro encontrar alguém com disposição e paciência para transformar papel em arte. Porém, a sobrevivência da atividade durante séculos é a prova de que sua beleza está além de todas as transformações da humanidade.

 

Quer tentar?

Nem todos os origamis são extremamente complexos e difíceis de serem feitos como esses

que aparecem na reportagem. Existem figuras tão simples de serem dobradas, que pessoas “comuns” (como eu) conseguem fazer com facilidade.

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