Só por hoje

Entrar pela porta da pequena sala de reuniões onde se lê escrito à mão “Seja bem-vindo”, mais do que um ato de coragem, é um grito, às vezes mudo, de socorro. Nos AA, Alcoólicos Anônimos, homens e mulheres se reúnem uma vez por semana com uma duração de duas horas em média, para compartilhar suas fraquezas, angústias e desesperos, mas, acima de tudo, o desejo comum de serem livres. A sua prisão não tem forma, apenas gosto e cheiro, as grades são invisíveis, mas também opressoras o suficiente para não olhar e encarar o outro de frente.

José da Silva, nome fictício, é alcoólico em recuperação, ele fala que o encontro o ajuda a viver o amanhã e que dizer que “nunca mais viver vou beber” é uma distância grande e o copo é a medida de um braço.

Alceu de Lima, nome fictício, ficou anos internados, com abstinência que o fez entender que o tempo é uma quantidade, mas não necessariamente qualidade, por isso ele tem o desejo de recuperar um tempo que nunca mais vai voltar.

COMO POSSO SABER SE SOU UM ALCOÓLATRA?

Somente você poderá decidir. Muitos daqueles que agora estão no AA foram previamente julgados por médicos, pela família, pelos amigos, parentes e conselheiros não alcoólatras. Estas mesmas pessoas acabaram procurando o AA porque sentiram, no íntimo, que o álcool os havia vencido e estavam dispostas a tentar qualquer coisa que as libertasse da compulsão de beber. Costuma-se dizer no AA que ninguém é um pouco alcoólatra. Ou se é ou não é. E somente o próprio indivíduo poderá dizer se para ele o álcool se tornou um problema.

Enquanto isso, eles aguardam, na esperança de que no próximo encontro o companheiro que está no bar, sentará em outro banco. É possível que as histórias sejam as mesmas, pequenas e grandes tragédias, sonhos destruídos e que não cessam de se recompor todos os dias, fazendo de cada um deles sempre um milagre. Só por hoje.

Por: Rogério Camargo (2010)

Edição: Matheus Koszalka (2022)