O Céu é só uma promessa
Summary
O que é ateísmo e agnosticismo? Quais são as motivações de pessoas que vivem sem a presença de um ser superior?
O título da matéria é inspirado na música cantada por Engenheiros do Hawaii
Ateísmo
O nome ateísmo vem do grego: ‘A’ (ausência) e ‘Theos’ (Deus), o termo significa então ‘sem Deus‘. Embora existente há muito tempo, o ateísmo tomou as formas atuais com grande amplitude no século XIX, após o Manifesto Comunista de Marx. Em resumo, o ateísmo nega a existência de Deus.
Um caminho inevitável?
João Alfredo Boska, economista e professor de matemática da rede estadual de ensino, contou que se tornou ateu no dia 17 de outubro de 1996. Johnny Hell como era conhecido entre os amigos por ser fã de rock e heavy metal lembra a data em que decidiu sua posição. Nesse dia, João leu uma frase na coluna diária do falecido jornalista Paulo Francis: “Sou irreligioso; minha vida não tem nada a ver com religião. Sofro de um ceticismo que me parece congênito. Nem me posso imaginar voltando a acreditar em alguma coisa, com medo da morte”. Claro que não foi apenas a frase que o conduziu ao ateísmo.
Havia dois anos que João lia sobre religião e ateísmo, e formava suas opiniões sobre o assunto.”Eu gosto de lembrar esta data porque foi a partir dela que eu me tornei um ateu convicto”. Criado em um lar católico, João contou que, durante a infância e adolescência, não refletia sobre a importância da religião em sua vida.
Durante alguns anos Johnny Hell frequentou a Igreja, mas sem se preocupar com o real significado da fé em Deus. Com o passar do tempo, João passou a formular questionamentos cada vez mais sólidos e contundentes: “Por que existe o mal? Por que algumas pessoas recebem milagres e outras não? Qual a importância da fé ou de uma religião no ponto de vista político e econômico?”. Sem encontrar respostas satisfatórias dentro da ótica religiosa, Johnny aceitou o que sentia ser inevitável: tornar-se ateu.
Questionado sobre as críticas de que o ateísmo se baseia numa crença e, portanto, não é a posição de um cético, João Alfredo explica: “Já fui alvo dessa pretensão lógica [risos]. Eu sempre respondo da seguinte forma: fé ou crença são apenas duas formas de convicção, mas não são as únicas formas. Se eu sou ateu, e eu tenho convicção disso, então não professo fé ou crença alguma.”
Agnosticismo
Imagem meramente ilustrativa
O termo Agnosticismo foi criado por Thomas Huxley, amigo de Darwin, no século XIX. Agnosticismo é uma oposição ao termo gnosticismo – corrente de pensamento do início do cristianismo, hoje considerada herética, que pregava o conhecimento intuitivo e transcendental para se chegar a Deus -. De acordo com o professor Silas Guerriero, o agnóstico não afirma a inexistência de Deus (ateísmo), mas prega que, pela falta de provas, não é possível afirmar nada a esse respeito. “Esta é a posição tecnicamente mais correta se você for um cético”.
Thomas Huxley, criador do termo “agnosticismo”.
“Nem afirmo e nem duvido”
Tiago Kroetz, hoje professor no departamento de física da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mas que na época da entrevista trabalhava na Unicentro, contou que desde a adolescência começou a questionar a existência de um ser onipotente.
Criado em uma família católica, Tiago esperou algum tempo para contar aos familiares sobre seu ceticismo em relação a Deus. “Até hoje meus pais não me levam a sério quanto a isso. Meu pai ainda acha que é uma fase”.
Ao ser questionado sobre a nomenclatura de seu posicionamento, Tiago disse que prefere ser chamado de agnóstico, pois constata a falta de provas tanto da existência como da inexistência de Deus e, cético como todo bom físico, prefere não tomar uma posição radical.
“Eu não vivo como se isso fosse a coisa mais importante da minha vida, porque não é. Tenho outras qualidades mais importantes que fazem de mim a pessoa que sou”.
Tiago contou também que sempre teve vários amigos religiosos, destacando sempre o respeito como elemento fundamental nessas relações e afirmou para a entrevista que aconteceu em 2011 que a fé ou a religião de uma pessoa não as torna piores, nem melhores, apenas diferentes, e é isso que a sociedade tem de aprender a tolerar.
Texto: Camila Souza
Edição: João Vitor Marques